Outra coisinha...

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domingo, 29 de janeiro de 2012

A Carta - "Desejos Submersos"





Não sei como começar a te pedir desculpas,
mas creio que ao final desse e-mail, irá entender.

"Senti o ar entrar sutilmente nos pulmões, preenchendo cada espaço em um suspiro longo e comecei a escrever. Suas mãos estão levemente dormentes, a vista um pouco turva, uma leve tontura... Pega o copo na comoda ao lado, está pela metade. Antes mesmo de beber deixa-o cair sobre as pernas, molhando todo edredom com estampa de nuvens. Não tem tanta força nos músculos. Pede a enfermeira para ajuda-lo, novamente o copo é recarregado com mais uma dose... De água!"
Meu mundo está sendo evoluído
e eu em regresso a infância,
onde dependo dos cuidados de uma pessoa
e essa nem mesmo é da minha família...
Alias, nem tenho um parente próximo
nem mesmo um amigo pra me aconselhar,
porque o que se dizia "amigo" me levou a riqueza,
porém, agora quase inválido nem mesmo um telefonema.
Deve estar atrás de um novo pupilo,
de um novo inocente,
para arrasta-lo ao mundo de desejos submersos,
esses por qual muito tempo
me deram momentos de alegrias,
satisfações momentâneas.
Como você já sabe o copo quase não saia da minha mão,
na minha sala da empresa uma garrafa tinha seu canto especial,
ali só bebia dela eu e o meu "amigo".
Sempre no final do expediente uma dose ou três eram apreciadas,
ou a garrafa toda.
Em seguida pneus na estrada e lá estávamos nós
em mais uma noite de calcinhas de todos os tipos,
dinheiro não era problema,
apenas as horas que passavam em um piscar de olhos.
Meia-noite, uma ou até duas da manhã
estava eu chegando em casa
me arrastando até a cama
com sono... Bêbado!
Por muitas vezes caia no sono no sofá,
a maioria das vezes... Sempre!
"Seis da manhã, o relógio desperta, movimenta o braço sem calcular a força e distância, consegue desliga-lo quebrando em partes ao cair no chão. Sente vontade em fazer isso com sua própria cabeça latejando, junto de um coração acelerado. Levanta...  Trombando com as paredes até chegar ao banheiro. As roupas ainda são do dia anterior, o cheiro de álcool, as marcas de batons baratos em suas variadas cores, mais uma motivo de reclamação da empregada: - Não da pra tirar antes a roupa pra fazer o que necessita estar sem? Mais uma pontada na cabeça! Sente a água gelada nos cabelos melados de champanhe, sente o frio lavar sua alma e desinfetar os resíduos corporais de outras pessoas... Mulheres! Sente nojo de si mesmo, mas mesmo assim segue-se a próxima noite. Satisfazendo apenas desejos... Desejos ilusórios, não é o que realmente deseja!"
Fiquei na banheira por alguns minutos,
bem mais tempo que imaginei...
Faço daquele espaço meu leito,
imaginando como seria estar morto?
Que pergunta besta, mas realmente queria saber!
Deixo a água chegar até as beiradas,
sinto meu corpo todo submerso em um silêncio sagrado
podendo sentir e ouvir o ar passando pelas minhas narinas.
Nenhum som, a não ser meu próprio coração se acalmando
aos poucos, vagarosamente, sem pressa!
De olhos fechados, ali... Tudo estava em paz,
até a empregada bater a porta e gritar meu nome.
Ela deve pensar que sou algum tipo de suicida,
por passar horas e horas dentro do banheiro,
ela estava certa!
Todos aqueles momentos
agora percebo o quão estava me matando aos pouco.
Essa cama pra mim é um castigo,
só não é tão pior ao descobrir...
Que estou morrendo!
As minhas chances são poucas,
assim disse o médico um dia depois do seu casamento.
Enquanto me arrumava para ir ao seu casamento,
acabei desmaiando,
na verdade um ataque de convulsão
e não havia uma alma por perto para me ajudar.
Minutos depois,
voltando da lavanderia
a empregada me viu todo estirado no chão do quarto
com a boca toda babada.
Fui dar por mim dois dias depois no hospital,
já em sã consciência recebi a notícia
de que tenho um tumor no cérebro,
e por algum milagre
ainda não paralisou partes do meu corpo.
E foi assim que perdi seu casamento!


PS: Peço desculpas, embora acho que não preciso disso!

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