Outra coisinha...

Não crie raízes em solo areoso, assim como não espere encontrar aguá em seu mais novo esconderijo, é preciso ser adaptável e constantemente ligeiro, toda mudança é um passo para o crescimento... Acredite apenas em si mesmo!


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domingo, 23 de agosto de 2015

3° Cap. Diário Nú




Jogou os talheres sobre a pia, lavou as mãos, a boca e as secou em um guardanapo amarrotado sobre a mesa de jantar toda bagunçada.
Ela estava um trapo!
Descabelada, lembra muito a deprimente e falecida "Amy Winehouse".
Eu parado em frente a geladeira seguindo seus passos pesados, passou por mim sem expressar um único sentimento ou movimento com os olhos, eu não existo... Com a calcinha de renda amarela enfiada no seu apelido, seguiu para sua prisão, seu confessionário, onde o notebook serve de janela e seu cigarro aceso de calmante, vejo a sala de visita se tornar uma névoa de vício e futilidade.
Voltei a atenção para a geladeira e em um gole só a água da garrafa desceu amarga, escaldante e pesada... Era cachaça!

- Sua retardada! Está ficando maluca? Cachaça na garrafa de água que costumo dar para Julia?

Os xingamentos duraram alguns minutos, falei, falei... E nenhuma ofensa veio  da sala. Ela estava usando um fone de ouvido maior que sua cabeça, mas tenho quase certeza que vi um sorriso de canto como se aquilo   fosse algo pensado.
Decidi não me estressar ainda mais.

- Estou indo buscar Júlia.

É triste vê-la nessas condições. Sem vontade de viver... Egoísta! Às vezes tenho a sensação de que ela se esqueceu que é mãe, de ser e agir como tal. Fico surpreso por Julia não a procurar por seu carinho.

Que garagem suja!

Meu carro então parece ter pegado estrada de terra todos os dias de tanta sujeira acumulada.

Como a horas passam, 17h30, Julia já deve estar me esperando.

O céu nublado alaranjado anuncia a chegada da noite, uma brisa leve e abafada, um dos dias mais quente do ano. Acho que vai chover.

"Um a um os pingos vão se intensificando, somente o som da chuva no pára-brisa. O vazio no peito. A boca seca. A luz brilhante que clareia toda a cortina de água. Um céu negro e agressivo, uivando e esbravejando contra nós seres destrutíveis."

O caminho até a escolinha de Julia parece longo e tranqüilo, embora o céu esteja desabando sobre mim. Foi em um dia assim que descobri a caixa de "pandora", e como não estava satisfeito resolvi abrir e ver o mundo cheio de mentiras, de pessoas fúteis e animalescas, de como Camila era repugnante e indomável, eu li o seu diário! Deveria eu nem ter chego perto, nem o encontrado, algo tão sujo que acabei deixando-me levar pelo mesmo espetáculo de putaria e luxuria.

~&~

Após chegar em casa estressado com alguns dos funcionários, a melhor coisa a se fazer é tomar um banho bem demorado, por que não uma banheira?

Porta entreaberta e la estava ela, pronta para mais uma noite.

"Parada em frente ao espelho verificou com um olhar cirúrgico a maquiagem, o vestido que contornava as suas curvas, empinando os seios com um decote avassalador."

Camila: - Vai ficar parado ai até que horas? Escutei sua lata-velha na garagem. Queria ter saído antes de você chegar, enfim... Não me espere, talvez passe um pouco do horário.

Vaca é um Civic, pensei... Está fazendo isso por vingança, ou não, sempre fez sem eu saber.

Uma buzina de fundo...

Camila: - Opa, meu carona chegou! Julia esta dormindo, então, sem neurose.

Ela sabia que eu iria mandar seu acompanhante a puta que pariu, mas fiz algo digno, lhe dei as costas e segui para o meu banho. Eu já tinha alguém em mente, uma pessoa que estava levando-me a uma nova paixão, Amanda!
Observei ela subir no automóvel, antes ela deu uma olhada para trás, sorriu e fechou a porta

"Um vazio no peito e apunhaladas dilacerando qualquer sinal de paz."

Antes que eu pensasse em qualquer besteira, um relâmpago riscou o céu, clareando toda a janela, tranquilizando minha alma e devolvendo minha calma.

Os passos foram intermináveis até o quarto, os degraus ficaram altos e exaustivos. Gravata afrouxada para  desengasgar o gosto de merda que não foi posta pra fora. Calça enroscada nos pés e olhando para o         vácuo, sem pensar em nada, em ninguém. Parado feito estátua no espelho, olhando o excesso de pele, aquela gordurinha sem vergonha, algumas estrias, algumas marcas do tempo, onde não sei pra onde vou, o que inventar ou me reinventar.

Outra clareada na janela, outra interrupção bem vinda, começa a chover, a ventar e trovejar.

Água escorrendo e seu vapor subindo, com o cansaço que estou, sou capaz de dormir dentro da hidro.

"Uma neblina envolvendo meu corpo, um arrepio subindo pelas pernas sendo submersas, passando pelas coxas e virilhas despidas, sinto como se fossem as mãos da traidora, uma lembrança muito bem guardada de uma língua me invadindo e me devorando, cada canto, cada espaço do meu pescoço, enquanto seu corpo desliza sobre o meu em um movimento constante e vagaroso. Nenhuma palavra é dita, apenas gemidos e chupadas, assédio e ternura, sexo e amor."

Enquanto me torturava em meu baú de memórias, um apagão, um raio estremeceu toda a vizinhança derrubando a energia. O banheiro ficou um breu, sendo iluminado por vezes apenas pela tempestade. Me permiti ficar ali deitado, sem  mover um músculo, tentando recuperar minha fantasia, porém, impossível... Júlia acordou com o som do raio.

Saco!

Assim que entrei em seu quarto, ascendi à vela, e vi aqueles olhinhos molhados e assustados.

Julia: - Papai ta bravo! Disse ela apontando para cima.

- Deus deve estar bravo sim amor.

- Bravo comigo e com sua mãe, pensei.

Deitei com ela até pegar em seu sono novamente. E como uma pena voando livre pelo ar, meus olhos aterrissaram em segundos após observar o dançar daquela chama despretensiosa.

"Cabelos em minha face, um cheiro de flor, lábios separados e um olhar fixo. Um verde que envolve o mel sendo sugado pela imensidão negra da íris, Imensidão essa que me leva ao desejo de dominá-la, invadi-la com meus lábios, em seus contornos instigantes, tomá-la contra meu corpo, agarrando-a pela cintura e sentindo o meu ego invadir a sua vontade de assédio."
Outro raio e um sonho pela metade. A vela se apagou me mostrando outra coisa acesa, o notebook de Camila.

Sua futilidade tirou sua atenção do seu confessionário, fazendo-a esquecer sobre o bicho de pelúcia. Pensei mil vezes antes de por as mãos, mas não resisti à curiosidade pegando-o e indo até a cozinha.
Cada passo minha mente vibrava com tantos segredos, tantas verdades sujas,  tantos momentos repugnantes.
Uma página aberta e uma agência de viagens pesquisada, a vaca talvez estivesse pensando em sumir. Creio que não, seria muita sorte minha.
Procurei seu diário em todas as pastas, mas encontrei apenas fotos de baladas e barzinhos, quase uma hora procurando até que... Uou!!!
Sua caixa de e-mail estava aberta.
Ao começar a ler, minha mente se desligou de tudo, os sons se cessaram, minha atenção voltada para uma única pasta, suas confissões, sua alma nua e crua.

Pensamentos Explícitos

“Uma garotinha jamais deveria ouvir gemidos e sussurros, o rugir do pé de aço da cama no chão vermelhão e ter sua infância roubada, dando início ao seu desejo voraz e vicioso.”

“Ela gosta de sentir seus cabelos contra o vento, gosta de sentir o tecido dançante em sua pele, o cheiro do gramado e seu verde cutucando as suas pernas, lembra-se dos sons das madrugadas e se sente molhada por mais uma vez.”

“Seu primeiro toque, sua primeira degustação se torna inevitável, folhas secas caem, respiração ofegante e o cheiro das flores se intensificam, os lábios são mordidos, a pele se arrepia, os seios ficam expostos sendo contraídos pelos músculos, um grunhir é esboçado timidamente, ela acaba de conhecer sua primeira lua cheia.”

“Dezoito anos e ela já sabe o alfabeto completo do amor, da nudez e sedução, sua pele anseia por toque e joguinhos de traições, o jogo de xadrez tem seu início.”

Frase a frase me deixara perplexo, mas isso era apenas uma prévia do que eu estava para descobrir.

“Ele é casado e ela é aberta em todos os sentidos. Que mal há em acompanhá-los em um copo de vinho? Dois talvez. Três. No quarto copo eu estava sentada sobre a cabeça dele enquanto ela se deliciava na cabeça menos pensante.”

“Velho, rico e paga minhas contas, minhas bebidas, esse vestido curto avassalador. Seu elevador sobe nas alturas, assim como sua conta bancária, diferente  do que se tem entre as pernas e seu ego, ambos aposentados.”

“Loira, abusada e me ensinou apreciar a silhueta feminina. Três copos de tequila e um de cerveja foi o suficiente para eu acordar com aqueles seios enormes sobre minha perna e perder a minha calcinha.”

“O sopro do vento da cidade é diferente ao da fazenda, do pasto verde, do falso pastor que sempre me assediou, ou melhor, do qual eu sempre instiguei, estimulei de múltiplas formas. Aos domingos, nas quintas e sábados o vestido era na altura dos joelhos e se fazia presente sempre no primeiro banco ao canto, próximo ao pilar onde dava para se sentar apenas duas pessoas. No começo, cruzadas de pernas e cara séria e quando já estava acostumado com minha presença, um sorrisinho e uma subidinha do vestido, o suficiente para fazê-lo seengasgar com a própria saliva. E por fim um quarto de motel, luzes semi-acesas com uma garrafa de champanhe esvaziada sobre mim, com restos de morangos pelo chão, pela cama e por todo o meu corpo.”

“Um restaurante luxuoso e um acompanhante ainda mais receptivo, educado,   olhos azuis, barba bem feita e um corpo atlético... Gay! Uma pessoa maravilhosa com um belo namorado e atrevido, ambos estudam o mesmo curso de enfermagem onde estou no primeiro semestre. Ao fim da refeição um convite de uma festa para o fim de semana, chácara, piscina e nudismo. Beijos de despedida e Lucas o atrevido tira uma lasquinha da minha boca e uma piscadela sugestiva.”

“A festa fantasia de Adão e Eva quem comeu foi à aranha. Uma festa diferente, onde eu era a única hetero em meio a uma classe alta com um pingo de periferia. Absolut, Grey Goose, cocaína e maconha. Quando me dei conta já estava nua, apenas uma folha colorida tampando meu sexo e os cabelos soltos sobre os seios. Tudo girava, meu corpo estava suplicando por toque, até que alguém me tomou pela mão arrastando-me para o banheiro invadindo a folha colorida  com a boca, com os dedos e por fim beijando-me ferozmente, tocando ela até  saciar-me com gemidos presos entre seus dedos.”

Tudo gira em torno de sexo, bebidas e drogas. A cada página, a cada linha    uma história repugnante e deliciosa, que por sinal todo aquele texto deixou-me animado e com vontades, continuei a lê-lo.

“Mais uma vez tive que sujar minhas mãos, por mais uma vez alguém que não aceita como sou e minhas vontades... Idiotas!”

“Homens serve para uma única finalidade, servir nossas vontades. Fazemo-los pensar que o controle da situação é deles, e quando precisarmos de algo é só fazer caras e bocas para termos o que desejamos. Se eles recusarem é só negar uma noite bem comida que no dia seguinte os resultados aparecem.”

“Mulheres e amizades só acredito quando dividimos o mesmo lanche na cama e uma delas me devora mais que a quarta cabeça irracional.”

“Tédio quando me perguntam do que eu gosto. Se não sabe brincar solta o brinquedinho e vai embora ou ascende um cigarro e faz minhas unhas.”

“Ele me deu um tapa na cara só porque segurei o aposentado e o chamei de inútil. Ao menos pagou a noite!”

Pagou a noite?

“Verônica o que tem de sonhos tem de safadeza. Morena dos cabelos lisos e brilhantes, pele macia e morena clara, lábios carnudos e atrevidos, sente cheiro de pênis á quilômetros de distância, porém, trata seus casos como namoradinha santa e dedicada. Ela engana a si própria quando diz estar apaixonada, não passa de   uma boa trepada pra dizer que está tediosa.”

“Carlos um cara interessante!”

Ao ler meu nome em seu diário meu coração bateu mais forte, os olhos se encheram de brilhos, uma gota escorreu.

Quando o mundo parece ficar de ponta cabeça e te tratar feito um lixo, uma luz sempre irá te surpreender em meio a escuridão. Eu estava pensativa na    praça mexendo em meu celular, lembrando o quanto eu sou egoísta e fútil, o   tanto que fiz mal a mim mesma e as outras pessoas, foi então que ele surgiu  totalmente perdido na cidade. Ele se aproximou e pediu uma ajuda, acho que  eu era quem precisava, tentei ser no mínimo atenciosa. Pediu informações de  alguns lugares e que veio a trabalho, algo relacionado com informática. Respondi tudo da mais simples e ele me perguntou o porquê das minhas lágrimas. E como se eu o já conhecesse a muito tempo comecei a falar, a chorar, a  lamentar, e assim foi por alguns minutos com ele me ouvindo, simplesmente   ouvindo. Não me questionou, nem mesmo me julgou, apenas sorriu e falou: -  Todos nós temos uma escolha de mudar e fazer o certo, dependerá se iremos aceita-la ou continuar vivendo a mesmice. Se for necessário começar do zero,  faça isso! Se for algo ou alguém que te atrapalha, é melhor abandonar ou seguir caminhos diferentes. Ele sugeriu um café no “Crazy Coffe”, e aceitei uma cerveja gelada. Não era boa com as palavras, mas ele acabou levando na brincadeira e acabei bebendo café. Conversamos por mais de uma hora e trocamos números de celulares. Eu disse que ligaria, ele disse que não, perguntei o porquê e ele simples mente sorriu e disse que esperaria ser surpreendido. Esperto!”

Ao ler aquelas palavras me veio a tona todos os sentimentos que eu sentia por ela, os momentos de amor, o momento em que Julia nasceu... Mas minha alegria durou algumas dezenas de páginas, o que se seguia na leitura seria apenas dor e sofrimento, ela ali confessaria o desgosto por mim, que tudo seria apenas sexo bom e dinheiro.

...

"Aos sábados ela acorda cedo feito princesa e vai ao salão. Passa horas cuidando dos cabelos, das unhas, mas a maquiagem é por conta dela. Feita para noite ela sabe o tamanho da saia para sensualizar, sabe o tom dos olhos o brilho certo para dominar. Ela recupera sua confiança com uma taça de vinho e várias tragadas de seu cigarro ao lado da hidro, o cheiro de rosas se mistura ao da nicotina que se mistura ao oxigênio em seu pulmão negro."

"O sol começa a se por, a lua crescente da o seu primeiro sinal de vida no mês, e uma estrela brilha por cima dela. Como Vênus sua beleza se destaca, ela é convencida e mortal, seduz para se sentir especial e ter a certeza que a velhice não lhe alcançou. Seu decote fica a menos de um palmo do seu umbigo, entre seus seios um colar de prata com um pingente do infinito e seu salto pode alcançar as nuvens de fogo alaranjado.

"O mundo aparenta ter muitas pessoas diferentes, individualistas, mas muitas delas gostam do mesmo Whisky, da mesma música, os mesmos desejos, e quando elas se reúnem em um único local com bebidas e sexo, o seu lado selvagem é colocado amostra testando sua capacidade de atrair o parceiro certo para satisfazerem as suas vontades, Swing acabou tornando-se meu novo vício."

"Pernas amostra, saia pouco abaixo da polpa do bumbum, destaca a tatuagem que estende-se da virilha até o tornozelo decorado com uma corrente da mesma cor do colar, prata!"

"Assim que saímos da casa da Adriana fomos ao encontro de Everton um conhecido dela. Rapaz jovem de 25 anos, estagiário em medicina no hospital particular da cidade. Gostoso e safado, um tanto divertido e sem escrúpulos."

Everton, filho da p... Então foi assim que o conheceu. A raiva já havia tomado conta antes mesmo que eu percebesse. Vontade de quebrar o notebook.

"Como todo ambiente noturno, as pessoas chegam moderadas e educadas, não há gritaria nem zombaria. Em menos de meia hora esse estilo muda, risadas a vontade, bebidas sendo recolocadas na mesa, flerte sem consequências ou timidez. O clube de Swing está mais lotado do que o normal, e tenho recebido muitos elogios e cantadas de todos os tipos, o que acabou causando um desconforto para Everton que está me dando muitas indiretas. Ao perceber que aquilo ali poderia estragar o clima do ambiente, coloquei a mão em seu abdômen com uma leve arranhada e dei-lhe um beijo demorado, lento o suficiente para quebrar qualquer tipo de barreira ou desconforto."

"Sala de neon, um tanto sugestiva, totalmente livre de preconceitos, pudor e julgamentos, apenas desejos e fantasias. Ao entrarmos na sala Adriana foi logo sentando na cama onde tinha um casal nu se deliciando de toques, Everton e eu ficamos no canto em pé. Ficar assistindo me deixou excitada, uma mão na minha cintura começou a correr por minha perna, a outra subindo por minha barriga chegando até o pescoço. Vagarosamente começou a beijar meu pescoço levando-me a loucura. Ele abaixou o zíper e comecei a toca-lo. Levantei a saia rebolando contra seu corpo enquanto tocava meus seios..."

Em uma fúria súbita peguei a faca de carne e acertei o meio da tela do monitor no exato momento em que Camila entrou pela porta. Seu olhar era de ódio... Fiquei sem palavras!