“Sexta-feira, 7 de
Novembro de 2003. Mulher mata marido em legitima defesa. Após a conclusão da
pericia, delegado afirma que esposa apenas se defendeu aos ataques de seu
marido, e que se não tivesse empunhado a faca na barriga do agressor teria sido
estrangulada até a morte...”
São quase dez horas da manhã e Camila não levantou, típico,
já me acostumei a fazer o almoço e preparar a lancheira da Julia.
Puta merda! Olhar pra mim através desse espelho me causa desânimo,
não vejo um futuro, até mesmo o piso gelado passa despercebido diante dessa
figura de um homem acabado e desiludido. Pelo menos o banheiro é aconchegante,
grande e bem decorado, assim como a casa toda. Na época das vacas gordas, meu
negócio estava se expandindo até me perder... Me foder! Torrar dinheiro com viagens,
bebidas, mulheres e sexo... Muito sexo! Engraçado, eu tinha até amigos há um
ano, fodam-se eles, interesseiros filhos de uma puta só.
- Camila é quase meio dia! A Julia está querendo que você de
banho nela. Camila... Camila... Ca... Ah, toma no...
Chamei-a por quase cinco minutos e não me respondeu, o jeito
foi por um sorriso no rosto e brincar de ser feliz.
- Adivinha
quem vai levar a princesinha passear no lago para visitar o senhor Roffus?
Julia: - O
Papai! (esbugalhou os olhos enquanto com
um sorriso compulsivo e gostoso)
Esse é o
motivo por não sair de casa, não querer que Camila vá morar em outro lugar.
Tenho medo de como ela irá educar minha filha, ou de como Julia reagiria em ter
a mãe distante.
~&~
Nascida no
interior de São Paulo, Camila teve uma infância de fazendeira com sua mãe e seu
padrasto. Após completar quinze anos teve sua primeira experiência, seu
primeiro assédio, foi estuprada por João, o segundo marido de sua mãe, que por
medo guardou seu segredo até sua maioridade.
~&~
“...em seu passado ela carrega outro
homicídio, onde matou seu padrasto com uma pá por ter sido estuprada dentro de
sua residência enquanto sua mãe lavava a roupa em um ribeirão dentro da
fazenda. Delegado deixa claro para imprensa que ela foi vítima em ambos os
casos.”
Na minha
situação atual não existem culpados ou cúmplices, apenas uma vítima, minha
filhota!
Camila tem
um passado atormentado, que eu fui conhecer depois dois anos casado, somente há
onze meses ela me revelou toda a verdade nos dois casos que a envolveu com as
mortes.
- Filha,
chega de brincar com o senhor Pato...
Julia: -
Senhor Roffus, papai!
- Levanta da
banheira, deixe-me te secar!
Julia: - Eu
consigo...
- Venha cá.
Você não lavou essa orelha, né senhorita Roffuda!
Julia: -
Você que é Roffudo!
- Para
quieta espoleta!
Ela caiu em
outro riso compulsivo, não contive e entrei na dança. Enquanto Julia tentava
por a roupinha fui até o quarto de Camila, que ainda estava na mesma posição,
no mesmo silêncio.
- Estou
levando Julia pra escolinha e vou direto para casa de um cliente, o almoço esta
no fogão, não se esqueça de guardar o feijão na geladeira.
~&~
Naquela rua
escura redescobri uma sensação que há muito tempo estava adormecida, Amanda
despertou em mim uma paixão insana, a excitação, o prazer em ser tocado de uma
forma safada e entorpecedora.
Eram 20h30
do dia seguinte quando a deixei em sua casa. Antes de sair do carro seus olhos
brilharam em minha direção, se aproximou:
Amanda: -
Não sei se vou te ver de novo...
- Mas eu
quero... Ela me interrompeu sussurrando:
Amanda: - Eu
quero muito te ver de novo, mas caso eu não tenha outra noite dessas, quero que
saiba que foi a coisa mais doida que já fiz em minha vida, foi a melhor de
todas, você soube me levar, me tocar antes mesmo de eu te guiar. Pra mim foi
tudo muito intenso... Conversa com ela, tenta entende-la, tente se explicar, e
caso ela seja uma vadia, louca e não te mereça... Me liga se precisar de algo,
só não me trate como último caso, mas sim como uma possibilidade de uma vida
melhor, feliz!
Me beijou,
eu não soube o que dizer, apenas a beijei. Acelerei vagarosamente, atravessando
as faixas o mais lento possível, não queria ter de ver a cara dela por outra
vez... Camila!
Liguei para
minha mãe para ter notícia de Julia, expliquei o que se passou, o que ocorreu e
que talvez a casa viesse a baixo.
Estacionei o
carro na garagem. A luz da sala apagada, apenas a luz do corredor acesa, cheiro
de cigarro pela casa. Entrei em nosso quarto, ainda era nosso até a noite
anterior, fui tirando a roupa. O cheiro de cigarro se intensificou, Camila
estava sentada na poltrona com o cigarro aceso, na outra mão um copo com bebida
sendo girado com gelos se chocando um contra o outro, eu apenas de cueca.
Camila: (Levantando-se vindo em minha direção) –
Qual a sensação de outra pessoa tocar seu corpo depois de tanto tempo tendo uma
única pessoa fazendo isso? Errado, perigoso e extremamente excitante. (Ela começou a passar a mão pelo meu corpo,
descendo o resto de pano que me cobria, me deixou apreensivo) Agora eu te
tocando, qual é a sensação? Se sente a vontade, você sabe quem sou eu, o meu
calor, o meu toque. Eu te conheço, você me deseja... (Começou a beijar minha costa, meu pescoço, chupando minhas orelhas,
usando as mãos para encravar suas unhas em meu peito, arranhando-me, me
mordendo) Você gosta? Você me quer? Gosta disso?
Cai como
patinho em seu joguinho de sedução. Amar é uma merda, me deixei levar pelo
prazer, pelo amor, deixando o orgulho de lado e se entregando a minha
decadência.
Deitou-me na cama, me cobriu de uísque e me chupou, me marcou, me ferrou... Eu
amei aquela condição! A falta de vergonha na cara acreditou que aquela vadia
poderia mudar e ser apenas a minha vadiazinha. Parando pra pensar não era muito
diferente dela, transei com ela mesmo sabendo que na noite passada estava com
outro, na verdade não tive tempo para pensar naquela possibilidade, já estava
com a cara entre suas pernas.
Ela subiu em cima de mim:
Camila: -
Gosta assim, sentindo o calor do meu corpo, dessas unhas nas suas pernas? Sente
como esta úmida? Coloque o dedo em minha boca.
Incansável,
estava esgotado quando ela me pediu mais, mais e um tanto mais. Desgraçada! De
uma coisa não posso reclamar, foi esse tipo sexo que me prendeu a ela por tanto
tempo, que ainda me prende.
Outros cinco
meses se passaram, o relacionamento aparentava ter voltado ao normal. Amanda
não me ligou, eu não liguei. Camila passou há ficar mais tempo dentro de casa,
mas não desgrudava do computador. O notebook parecia que estava grudado a ela,
ia para o trabalho com ele, em casa até no banheiro levava. Foi ai que me
despertou o interesse, todo o pesadelo se iniciando. Ela mantinha conversa com
Evandro, mas por algum motivo não queria mais vê-lo, bom sinal? Não, tinha
outro na jogada! Mas fiquei tranquilo, era um caso virtual do qual não teve
contato físico. Até que ponto uma pessoa suporta tudo isso? Estava sendo
testado!
Quase um ano
se passou desde a última vez que vi Amanda. E Camila estava estranha. Estranha
não, totalmente fechada, não queria transar, não queria que eu a tocasse, fodeu!
~&~
Quando
voltei da casa do cliente o relógio marcava 16h30, Camila esta na cozinha
comendo algo. Que cara péssima! Sempre adorei o cabelo bagunçado ao se acordar,
mas naquela situação, com rímel, maquiagem borrada, parecia mais o coringa
depois de esfregar a cara em arenito.
- Quer beber
algo? Eu vou...
Camila: -
Some da minha frente, vaza! Seu corno!
Golpe baixo!
Estava me olhando com um ódio mortal, da última vez que aconteceu isso apontou
uma faca para mim!
~&~
Em um sábado
fomos a um show ao vivo na cidade, onde se reuniriam a maioria dos antigos
amigos. Ela estava feliz, sorridente, me abraçando, uma Camila diferente dos
últimos anos. Começamos a beber antes do show, em um barzinho próximo ao local.
Os amigos dela da internet estavam presente. Foi uma rodada atrás da outra de
chope, doses e mais doses de tequila, banheiro sendo visitado com mais
frequência. Ela estava começando a ficar bêbada, eu já estava rodando.
O show
começou eram 16h30, e por mais outra vez fui ao banheiro e comprar bebida. E como
se fosse tudo combinado, destino, sorte ou sei lá o quê, adivinha quem estava
na barraca de chope trabalhando... Amanda! Ficamos conversando por alguns
minutos, ela queria conversar mais, eu queria sexo mais uma vez. O desejo
retornou, a insanidade não me dominou. Eu não podia, eu não queria errar
novamente, então como se o desejo estivesse me matando por dentro, sai dali e
fui até Camila.
- Filha de uma puta!
Berrei, ela
não me ouviu devido ao som alto, estava beijando outro, o amigo da internet, e
como impulso eu já sabia pra qual lugar voltar, fiquei quase até o final do
show ao lado da barra em que Amanda estava. Antes que dessem por falta dela, a
sequestrei, claro que ela aceitou meu convite de fugir dali, abandonei Camila
novamente, mas sem nenhum remorso, ou qualquer tipo de culpa.
No lado de fora do estabelecimento a beira-rio, sentamos em um banco todo
arranhado com nomes dentro de corações, declarações de amor, de ódio feito por
algo pontudo... Ela interrompeu a algazarra das gaivotas:
Amanda: -
Está com um olhar distante, triste... Aconteceu algo?
- Esse tipo
de situação entre nós esta se tornando normal, sempre que Camila pisa na bola,
eu te encontro... Esquece, prefiro não falar sobre isso.
Amanda: -
Não sei o que te dizer sobre isso, faz o seguinte, me espera aqui, eu preciso
ajudar o pessoal guardar as coisas, limpar o que está sujo, enfim, em meia hora
ou menos eu volto e vamos pra um lugar diferente enquanto se cura dessa
tristeza... (Ela foi gentil em não dizer
a palavra BEBADO!)
- Volta sim,
vou ficar aqui, volta...
Amanda: -
Não saia daí! (Saiu correndo e eu me
corroendo de ódio)
O último
suspiro de raio de sol no horizonte se perdeu, as luzes da cidade foram se
ascendendo, e me surpreendi com a capacidade de Camila não se importar, não se
perguntar onde eu estou, o que faço, o que me aconteceu... O celular em minha
mão e nenhuma ligação, vinte e nove minutos e Amanda apareceu.
Amanda: -
Bem, onde está seu carro?
- Está na
garagem do evento!
Amanda: -
Entendi. Vamos ao meu carro, posso te levar?
- Se você me
fizer esquecer toda essa palhaçada pela qual estou passando, topo qualquer
lugar! E detalhe, minha chave do carro está com Camila, garanto que ela vai
saber o que fazer.
Amanda: - Imaginei
que ela estivesse aqui.
- E já deve
imaginar o que ela me fez, de novo! Nesse momento deve estar em algum canto se dando
para um carinha da internet. Que não seja no meu carro, ela faça o que quiser,
estou farto!
Amanda: -
Quer conversar sobre isso?
-
Sinceramente não, me tira daqui!
Amanda: -
Ótimo! Olha que eu trouxe, vou te embebedar...
- Mais um
pouco você quer dizer.
Amanda: -
Pra onde estamos indo você pode fazer o que quiser.
O carro foi
saindo por entre o povo esparramado na rua, alguns caindo de bêbados, outros
dormindo na calçada e algumas risadas altas exageradas, isso porque não faziam
nem meia hora que o sol se pôs. Deitei o acento do carro para que o vinho
descesse com mais facilidade, olhando as luzes ofuscando a minha visão e
tornando a situação engraçada aos olhos de Amanda que me beliscou.
Amanda: - Nada de dormir, pode levantar que você vai me fazer companhia esta
noite.
- Pode
deixar, que o ódio que estou não durmo tão cedo.
Chegamos a
casa dela. Está morando sozinha em um condomínio muito luxuoso. Assim que parou
o carro na garagem, tomou a garrafa da minha mão e a tomou todinha em um gole
só, tinha pouco mais da metade, fiquei surpreso e ela sorriu.
Amanda: - Vou
me arrumar rapidinho e logo saímos.
- Posso te
ver?
Amanda: - Se
você se comportar... Vem!
Levou-me até seu quarto me fazendo ficar sentado
em sua cama. O mundo girava, vista turva, minha língua dando nó, ela foi se
despindo bem devagar jogando as roupas pelo chão. Ficou nua... Foi por um
minuto! Entrou no banheiro, escutei a água caindo no chão, não ousei sair da
cama, esperei que o tempo me consumisse até vela sair pela porta envolta a uma
aura, uma cortina de fumaça branca, o vapor de seu corpo sendo sugado pelos
meus pulmões. Uma toalha em volta da cabeça sendo retirada envolvendo o corpo
deixando a pele seca, devagar e provocante, uma das pernas posta à beira da
cama entre as minhas para alcançar os pés, meus olhos seguindo os movimentos
das mãos, cada canto que a toalha ia percorrendo o húmido... Eu vi quando ela
me viu o meu olhar de desejo! Em seguida uma minúscula calcinha, tampando o necessário,
o desnecessário a meu ver. Uma camiseta branca com borrados de tinta pretas, o
nome de uma banda de Rock junto de uma calça de couro que parecia mais um
espelho refletindo as coisas a minha volta. Não conseguia pensar em mais nada,
apenas naquele corpo, naquela sedução, e como se ainda faltasse algo ela se
fez, se criou com uma maquiagem gótica. Que delírio! Nunca pensei que naquele
mundinho existissem tantas faces. A verdade é que nós homens subestimamos a
mente feminina, acreditamos que uma mulher “direita” são as santinhas pra
casar.
“E quem disse que as santinhas entre quatro paredes são apenas delicadeza? Safadeza até mesmo os crentes gostam de exercer, se casam pra dizer que não estão vivendo em pecado e ao perceberem que a pessoa ao seu lado não é a outra metade da laranja levam uma vida pacata e sem desejos, isso por causa de outro safado a frente dizendo que o seu dinheiro é a prova de sua fé.”
Às vezes é
nas “erradas” que encontramos nosso céu, nossa satisfação por toda vida, nosso
amor. Casar para se ter uma relação sexual é algo totalmente precipitado.
Após
terminar sua maquiagem me olhou procurando um sinal de aprovação:
- Delícia...
Ela sorriu e
completou:
Amanda: - Você
não perde por esperar!
Ela estava
certa! A noite estava se tornando totalmente imprevisível. Pouco mais de 20
minutos cortando as ruas, chegamos a um barzinho no centro da cidade, lotado de
gente de preto, roqueiros que não acabavam mais. Me senti um pouco deslocado ao
entrar no recinto, mas ela logo me confortou:
Amanda: -
Relaxa! Uma coisa boa de vir nesses lugares, ninguém repara na sua roupa, no
seu cabelo, na sua risada, aqui você é simplesmente você!
- Tá, não
reparam em mim, porém não pode dizer por si, você está um arraso com essa roupa!
A cada passo tem alguém te comendo com o olho.
Amanda: -
Então porque você não gruda em mim?
Coloquei a
mão em sua cintura, ela puxou-me grudando a seu corpo, quando dei por mim
percebi um palco com uma banda rolando um som muito agitado. Ela me segurou
firme e foi se enfiando até chegar próximo do palco. Pulei, gritei,
extravasei... Ela fez o mesmo. Nunca havia me sentindo assim, livre!
A cada música um movimento sensual, a cada batida de pratos do baterista um
gemido em meus ouvidos, foi me deixando doido, alucinante, totalmente entregue
aquele gingado de cintura. Ao som de “You’re Crazy – Guns and Roses” Me puxou
mais uma vez junto de seu corpo e sussurrando em meu ouvido:
Amanda: -
Quero você agora!
Encostou aquela calça agarrada a sua bunda em mim se contorcendo,
esfregando-se por todo meu corpo. Não resisti, tomei-a pela mão entramos no
banheiro feminino. Ela estava de costa pra mim com as calças abaixadas quando o
som "Breed – Nirvana” começou a tocar, que loucura, uma intensidade, um
prazer inexplicável. Quando estava quase no clímax, uma segurança feminina me
retirou de lá quase a tapa. Ficamos no barzinho até há uma da manhã conversando
com outros dois casais, no qual viriam a se tornarem amigos próximos. E quando
tudo parecia estar próximo do encerramento ela deu a seguinte ideia de irmos
todos a sua casa, claro que todos aceitaram. No meio do caminho Alex e sua
namorada Carla compraram mais bebidas, tequila e conhaque! Loucura! Mas na hora
eu nem estava pensando nas consequências.
Doses e mais doses, uma após outra, não era sábio levantar do colchão posto no
chão da sala com outras cinco pessoas esparramadas por ali. Essa é uma cena que
não sai da minha cabeça, todos ali deitados, cada um com sua parceira na
pegação, Amanda teve a ideia em tirar minha camisa, todos fizeram o mesmo, em
menos de um minuto estavam todos nus, transando! Não teve troca de casais, mas
o fato de estarem expostos era novidade pra mim, não me senti intimidado e
acabei me deixando levar pela situação.
No dia seguinte
o dia já estava terminando quando acordei, já se passavam das dezesseis horas.
Apenas eu e Amanda na sala, o resto do povo haviam se evaporado, quem sabe foi
apenas um sonho safado com aquelas pessoas presentes. A foto de papel de parede
no meu celular lembrou-me de que aquilo foi real.
- Obrigado
pela noite de ontem, posso dizer que foi a coisa mais doida que eu fiz. Você
realmente me surpreendeu, não esperava por tudo aquilo.
Amanda: - Nunca
fiz aquilo, como eu estava com você me senti a vontade, como se nada tivesse
consequência, se era certo ou errado, apenas me deixei levar e as coisas aconteceram.
- Acho que
isso foi reciproco... Mas nunca foi até aquele bar?
Amanda: -
Sim, por muitas vezes, porém antes que eu pudesse me envolver em uma aventura
doida que nem a de ontem, vinha embora. Como disse ontem, me deixei levar!
Após alguns
minutos de conversa, pedi-a para me levar embora, a noite de domingo seria
turbulenta com Camila.
Amanda me
deixou poucos metros de casa, me deu um beijo, sorriu dizendo que eu sabia onde
encontra-la.
Assim que passei pela porta da sala vi Camila, sentada assistindo TV. Perguntei
por Julia, não respondeu. Verifiquei toda a casa e ela não estava lá. Ao invés
de ficar na minha, calado, não resisti e soltei a primeira alfinetada:
- Que coisa
linda que você fez ontem. Parabéns... Mas não pense que foi a única que se
divertiu.
Camila: - Eu
não fiz nada demais. Estava curtindo com meus amigos e você mal ficou comigo,
fiquei te esperando quase uma hora no carro.
- Lógico,
estava indo ao banheiro e numa dessas idas, na volta te vi beijando outro.
Ficou sem
argumentos...
Camila: -
Estava bêbado, não sabe o que viu.
- Não me
venha com essa, mas me diga, você se divertiu, aproveitou sua noite?
Camila: -
Depois de te esperar por um bom tempo, fui à república dos rapazes.
- Que bom
saber, me sinto menos culpado na situação.
Camila: E
você onde festava?
- Se
realmente quisesse saber teria me ligado no celular, mandado mensagem, qualquer
outra forma teria feito, mas não, nem um sinal de vida. Não me venha com essa
agora...
O meu
celular tocou, ela correu pega-lo... Era o Alex, mandando mensagem falando da
noite passada. Pra piorar a foto de contato, estava ele e a namorada despidos. Ela
viu todas as fotos! Vi seu rosto se transformando a cada foto vista, a cada
segundo...
Camila: - Eu
vou te matar seu Filho de uma Puta! Como ousa me trair assim? Quem você pensa
que é?
Ela saiu
andando da sala, foi até a cozinha e voltou... Uma faca empunhada.
- O que você
pensa em fazer?
Camila: -
Você ainda pergunta? Vou te matar seu corno, vou te castrar.
- E o que
você fez? Você acha certo? Direitos iguais!
Camila: -
Direitos iguais o cacete, não pense que eu não tenho coragem, fiz uma vez e posso
fazer de novo.
- Mas do que
é que você está falando?
Camila: - O
que é meu é somente meu, eu não divido! Quando eu saio com outros caras...
- Outros
caras? Então tem muito mais “outros caras” do que eu imagino...
Camila: - Isso
mesmo! Mas eu não misturo sentimento, já você esta saindo com aquela vaca de
novo. Esta gostando dela é? Hein? (Camila
foi perguntando-me e se aproximando) Você nem imagina do que sou capaz, um
marido eu matei, matar outro não me custa nada.
- Entendi,
então quer dizer que ele tentou te estrangular porque ele sabia das suas
traições.
Camila: - Cala
a boca! Você não esta em condições de me acusar.
Um movimento
veloz rasgou uma ponta da minha camisa, fiquei assustado, quase me borrando,
achei que realmente fosse capaz de me matar, então me calei e deixei-a falar.
Camila: - O
que eu faço é problema meu, o que eu quero tem que ser quando eu quero.
- Você está
ficando maluca!
Camila: - O
último que disse isso morreu com uma pazada na cabeça. Não sabia respeitar
minha vontade, achou que poderia me ter toda hora, tive que dar um basta. Agora
pensa bem o que você quer pra você.
- Você esta
me ameaçando?
Camila: -
Entenda como um aviso!
- Camila eu
quero o divórcio!
Camila: -
Nunca!
Esbravejou
de uma forma insana colocando a faca em meu pescoço.
Camila: - Daqui você sai morto. O que seria da nossa filhinha? Será que é sua?
Seu frouxo! Saia daqui e veja do que sou capaz...
Ela começou
a me revelar os monstros existentes em sua alma, deixando a mascara cair, o
quanto seu passado é negro. Nesse momento temi pela vida de Julia. Camila era
louca, uma assassina, minha mulher... Como pude não perceber o tipo de pessoa
com quem estava me envolvendo?
~&~
- Camila
estou indo buscar a Julia!
A verdade é
que quando mais nova já era uma vadia, ela adorava se insinuar para os homens
da fazenda, tanto é que sem ninguém saber ela já tinha se envolvido com muitos
pais de famílias ali da redondeza em troca de dinheiro. Seu padrasto descobriu
a história toda, o boato corria fácil entre os homens e para cala-lo se
ofereceu a ele também, após ele rejeita-la por muitas vezes estava disposto a
contar todo o ocorrido para a mãe dela e acabou perdendo a vida pra fúria de
Camila. Por fim, ela se deu bem na sua versão para a polícia o acusando de
tentativa de estrupo.
O mesmo fim teve seu ex-marido ao se descobrir que era traído, ele estava possesso
de ódio. Ele havia contratado uma pessoa para seguir os passos de Camila, onde
tirou muitas fotos dela com o amante. Ele a pegou pelo pescoço assim que a viu,
enchendo a de perguntas, de ofensas, chorando... Ele sem perceber estava a
estrangulando na cozinha, foi ai que ela tomou uma faca em sua mão encravando-a
em sua barriga. Após a perícia criminal ela conseguiu escapar por legítima
defesa. Depois de todos esses anos ao lado de Camila, percebi que sua loucura a
torna astuta e perigosa demais.