Outra coisinha...

Não crie raízes em solo areoso, assim como não espere encontrar aguá em seu mais novo esconderijo, é preciso ser adaptável e constantemente ligeiro, toda mudança é um passo para o crescimento... Acredite apenas em si mesmo!


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quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

A Carta - "Pensamentos"

Já é tarde, os sinos da catedral soam, meia noite em ponto desligo a televisão indo em direção ao meu quarto. Passos lentos olhando cada detalhe do piso de madeira, velho, riscado, todo desbotado pelo tempo.

“O caminho se torna longo, o tempo desaparece, os segundos não existem, o presente se desfaz dando espaço para as lembranças, de um o passado de superações, de medos não enfrentados, de oportunidades perdidas, de casos e acasos solucionados.”

A parede branca descascada, no canto, próximo ao batente, não esta pior que a frente da casa, precisa de uma restauração total. Não é por falta de descuido ou de vontade, apenas não temos dinheiro suficiente para nos dar ao luxo em satisfazermos nossos olhos ou das visitas que fingem não reparar, mas mal conseguem tirar os olhos dos defeitos, mal sabem a luta e obstáculos que enfrentamos. Por muitas vezes sinto vergonha, um certo desânimo pela minha condição, mas não posso desistir, ainda mais agora com uma filhinha linda e uma esposa pela qual sempre pedi em minhas orações... Ele me ouviu!
Ela está toda esparramada na cama, Yasmim dormiu faz poucos minutos. Ainda sinto a mesma paixão, um amor maior do que o início do nosso namoro, maior que o daquele dia no banco da praça, onde avistamos o dançar da borboleta negra de pintas brancas em cada ponta das asas, sentimento tão intenso que não da para calcular seu peso ou tamanho, simplesmente senti-lo.  

O forro da casa é de madeira, em dia de chuva ela se parece com a casa do filme “Sinais”, com Mel Gibson no personagem principal, onde sua filha espalha vários copos com água pela casa para se proteger dos alienígenas. No nosso caso são baldes, bacias, canecas para conter as goteiras que nascem da madeira embolorada. Soa cômica a situação, mas me dá uma dor no coração por temer pela saúde delas. Por mais gotejos existentes, nosso quarto se salva com apenas um escorrimento na parede já demarcado com um tom marrom, por muitas outras vezes ocorridos! 
“Sorrir para os nossos problemas e dizer que jamais desistiremos, fácil na teoria, já na prática... Inesquecível atitude!

Quem acredita em sua própria vitória sempre irá vencer, quem acredita na sua capacidade sempre irá alcançar, há aqueles que nascem para comandar e liderar, há também aqueles que se dedicam somente ao amor e a sua natureza, ao bem estar do seu próximo... Não importa qual seja a sua personalidade ou suas escolhas, o importante é procurar a alegria dentro de si e transmiti-la a quem necessita.”

Um suspiro calmo e silencioso, ela abre os olhos toda sonolenta junto de um sorriso tímido espremendo os olhos com as mãos.

“Deita comigo amor!”
Debruçada sobre meu peito caindo no sono novamente, sinto seus pulmões encherem de ar, sinto minha calma retornar.

Os sons de pingados começam aumentar sua intensidade, a chuva esta forte e intimidadora, fazendo qualquer morador de rua correr atrás de um refugio... É esse pensamento que me vem à cabeça, imaginar eu aqui, no conforte de minha casa, onde outros mal têm a opção de se manter aquecido e seco. 

“O mundo parece ser injusto a nossos olhos, as nossas condições, insatisfeitos com o que temos reclamamos por bens materiais não obtidos, a quem deseja poder andar e mal consegue falar, a quem deseja cantar e mal pode ouvir, e mesmo assim com todas essas dificuldades sabem aproveitar o bom da vida... Amar!”

Foi só falar que o quarto estava salvo, que uma gota conseguiu mirar o buraco do meu nariz. Acender luz da casa... Nem pensar! Imagina a fiação da casa pegando fogo. A base de velas, todas às vezes são assim! É pra rir mesmo, pois é ela riu! Riu tão alto e tão demorado, que a Yasmim acordou, ai quem riu foi eu. 

Empurra ali, empurra aqui, cômoda pra lá, cama pra cá e Yasmim no nosso meio. Era uma chuva tão intensa, que eu tive que por o berço dela em cima de um sofazinho que há em nosso quarto, usado pela minha esposa para fazer Yasmim dormir. Estava ruim, mas estava ótimo em ver o quanto ela é uma mãe dedicada, o quanto é uma esposa esforçada e feliz, principalmente quando me diz que me ama. Não consigo imaginar nada melhor que os segundos que antecedem o beijo dela.

São quase duas horas da manhã, ambas em um sono profundo e eu aqui te escrevendo, no silêncio, no vazio negro, uma única luz vinda da vela no pires lascado nas beiradas sobre o criado-mudo. Sinto meus olhos pesados, quase me fazendo inclinar para frente, quase me vencendo, mas antes me lembro das suas condições, mais um momento triste pelo qual está vivendo... Sobrevivendo! Você tem muitos motivos para desanimar e desistir... Muitos motivos, porém poucos argumentos. Antes de qualquer coisa, você deve se perdoar, e aceitar que o passado agora importância alguma se tem. Sua vida agora é essa, a realidade é dura e madura, sua doença, seu fardo... Talvez seja essa sua salvação, sua reconciliação, o seu próprio perdão que procura e não encontra. Você pode vencer de muitas formas, mesmo que você venha falecer amanhã, hoje, agora... Nem quero pensar nisso! Mas sua recuperação não depende do resultado final, mas sim o que se pode fazer agora, das vidas que você pode salvar... Você deve essa ajuda a si próprio. Uma coisa é certa, eu não tenho a sua riqueza, muito menos sua frieza de tempos atrás a ponto de ignora-lo e deixa-lo sentir do próprio veneno. 

“O escorpião é tão defensivo e mortífero, que sua melhor defesa é a causa de sua própria morte.”

A chuva acalmou, os pingos ainda se fazem presente, eles na sala parece colidirem ao pé do meu ouvido de tão agudos e irritantes. E pra espantar de vez o pouco sono que me tinha, a sede se torna incontrolável. Pés descalço no chão vermelho, úmido e sujo. O assoalho da sala está mais parecido com um deck à beira-mar, todo molhado pelos respingos! 

“A porta da geladeira deixa escapar o ar frio, água gelada em uma garrafa pet de dois litros é despejada em uma caneca de alumínio, e bem lá embaixo, no fundo, atrás de um pote de manteiga está uma salada de pepino com cenoura, enfim, devorada, em coisa de segundos.”

Quase quatro horas da manhã. Tenho que levantar as seis pra ir à feira, comprar as verduras mais em conta, desde que o tomate vale ouro, sigo o exemplo de minha mãe. Amo essas pequenas coisas em minha vida, são como aventuras em terras não habitadas, esses simples detalhes me fazem feliz. Acredito que você também possa viver com isso. 
“Se você construir um império, lembre-se que ele só existirá se você souber cuidar do seu povo, porque é esse povo que o torna grandioso e em constante evolução.”


PS: Não tenho muitas palavras para te consolar, mas tenho meu carinho e minhas mãos para te ajudar no que estiver a minha altura, alias, amigos servem para isso, certo? Ei, precisa conhecer minha filha, alias você é o padrinho dela! Melhoras!

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

A Carta - "A Sombra no Espelho!














Uma pequena semente dos infernos,
plantada bem na medula óssea,
questão de tempo para me deixar paralítico.
Porque eu?
Acho que seu Deus não me ama... Ninguém!
Não tenho mais forças para nada,
nem motivos para viver,
sinceramente já pensei em até me matar,
quem sabe assim encontro meu lugar,
lugar de ninguém,
o lugar de todos!
Sinto um vazio imenso no peito
junto de uma dor alucinante em minha costa,
talvez seja apenas um mal estar no corpo
ou uma preguiça absurda,
não sei ao certo...
Umas cutucadas que chegam a latejar a cabeça
dando-me náuseas.
Um dia antes de receber sua carta
estive em maus lençóis,
não conseguia pensar em nada
nem em ninguém,
muito menos em mim,
eu queria somente a morte... Somente!
Eu tenho feito à sessão de quimioterapia,
porque os médicos creditam em minha recuperação,
só porque eles acreditam, eu não!
Após uma sequência de medicamentos pela manhã,
me deitei,
o sono foi tão pesado
no qual acordei somente às dez da noite.
“Corpo mole, mente vaga, sonolência dominante. Uma perna pra fora da cama sendo seguida pela outra, arrastando-se pelo lençol manchado de comidas, remédios, sangue... As pálpebras estão pesadas, mal consigo manter os olhos abertos, um cochilo ligeiro... Será que a morte me visitará dessa forma? Lenta, passional e sem dor? Duvido muito!”
Com um pouco de dificuldade vou até o banheiro,
cheio de náuseas e pisando duro,
todo desajeitado,
nem quando eu bebia me sentia assim,
vai ver que ela me fazia bem...
Que vontade de uma dose bem servida!
Só de pensar eu vomito...
Já nem tem mais cor,
já não sai quase nada.
Sinto a garganta queimar,
calafrios constantes,
tendo que medir minha temperatura
quase o tempo todo... Novamente ânsia!
Não aguento mais!
Estou com um odor azedo
devido a essa cena deprimente,
a mais de vinte horas sem tomar banho,
a enfermeira até tentou me ajudar,
mas eu a insultei com palavrões de A a Z,
fazendo-a chorar e ir embora...
Somente eu e o frigobar,
vazio... Parecido comigo!
 “Luxo total, o banheiro é imenso! Ao lado do frigobar a enorme banheira de centro, cabendo confortavelmente quatro pessoas. Uma tela de cinema com um áudio perfeitamente distribuído. As paredes todas de espelho com colunas de madeira. As claridades das luzes davam para serem ajustadas com um pequeno controle no tom chumbo, a mesma cor da pia e do sanitário, esse com o estofado na cor preta. Era praticamente uma sala de banho, não economizou dinheiro, sempre prometeu para si mesmo que teria a casa a seu modo!"
Nada para beber,
nem um gole de álcool,
nem posso,
nem devo... Como eu quero!
A água esta morna,
sem espumas, sem sais minerais,
sem frescura nenhuma,
apenas agua e meu corpo trêmulo.
Por que eu?
Um tumor, por que eu?
Um mergulho com o corpo todo submerso,
apenas o nariz e boca para fora d’água,
afogando minhas duvidas,
as vozes em minha mente...
O pensamento em suicídio é intenso!
Ouço as batidas de meu coração,
e lembro-me da cena,
dela deitada sobe meu peito
dizendo que meu coração batia forte:
“Sente o meu agora, sentiu? Está calmo, né?! Culpa sua! Você me deixa assim, você é minha fonte de calmaria, meu oceano dos segredos obscuros e desejos insanos, meu verdadeiro eu, com você eu não preciso encenar, eu apenas respiro ao seu lado e inspiro as minhas verdades, as minhas vontades, você...”
Não a deixei terminar,
precisava daquele beijo,
porque meu coração chorava
ao ouvir aquelas palavras,
caindo aos pedaços
e se transformando em migalhas,
porque poucas horas antes eu estava
com a outra... Uma das outras!
Eu sou culpado por tudo,
por toda essa tristeza,
por toda essa minha solidão,
nunca consegui por mais de uma hora
ser sincero com ela,
contar as verdades
e dizer o quanto eu amava-a... Nunca liguei pra isso!
O mergulho me fez lembra-la,
então, submergi e vi a minha realidade,
cabelos espalhados pela água...
Levei minhas mãos na nuca,
e um simples passar de mãos
os cabelos se soltaram,
por um momento fiquei ofegante,
mas logo lembrei que era o efeito das drogas
que tenho tomado para retardar meu problema.
Sai de dentro do meu desespero,
e parei de frente com aquela sombra
refletindo a escuridão, tristeza, dor...
Meu reflexo!
Perdi muito peso,
e o espelho não deixava-me iludir
com a possível recuperação.
O que antes era meu maior charme
agora estava entregando-me a angústia.
Me aproximei a um palmo da parede de vidro,
e eu vi... Vi uma sombra...
Não era minha!
“Você... Suicida, logo estaremos juntos!”
Não é a primeira vez que ouço vozes,
mas dessa vez era diferente,
eu estava vendo,
tremendo pela febre, de medo.
Engoli seco...
Meus lábios roxos trêmulos tomaram uma iniciativa,
consegui me defender:
“ Não sou suicida, estou com um câncer!”

Fui surpreendido com uma resposta que gelou toda a espinha.
 “Sim, você morreu há muito tempo! Após ela morrer, você sabe quem, não conseguiu mais se olhar para o espelho, o que não é pra menos, foi ai que começou sua morte... Parcelada! Aos poucos, você foi entrando no mundo da ilusão, da perdição, drogas, bebidas, mulheres... Aos poucos você foi provocando isso, e o câncer... É apenas seu castigo que lhe concedi, uma morte lenta e dolorosa, na qual você terá tempo em pensar nas suas escolhas, nos suas maldades e falsidades. Esse não é fim, você ainda irá experimentar a dor da dependência, a mesma dor que sua mãe passou, do mesmo jeito que não ajudou-a...”
 “Cala a boca”
 “Como você é fútil, egoísta e ridículo! Não ajudou a própria mãe quando necessitou, simplesmente a deixou morrer. Que tipo de filho você é? Ou melhor, que tipo de monstro você esconde? Não é melhor que os demônios que irá encontrar, não é melhor que um assassino, você é uma alma vazia... Assassino!”
Aquela sombra diante do espelho,
sabia de tudo,
da pessoa ridícula que sou
e dos meus erros para alcançar a riqueza.
Riqueza...
 “A vida não necessita só de dinheiro e bens, o tudo agora é nada, e o nada são meus pensamentos e as lembranças me sufocando.”
 Após ouvir tudo calado, tive o desprazer de uma última frase:
 “Até mais!”
Minha perna esquerda amoleceu
feito casca de banana descascada,
me fazendo desabar no chão
batendo com a cabeça no espelho...
Ouvi um zumbido...
Cacos caindo sobre mim
estridentes no piso molhado...
Um corte na testa
e um sangue escorrido misturado com a água.
Não conseguia movimentar a perna,
a mão esquerda estava dormente,
junto de um formigamento...
A doença... Meu castigo?
Um trovão estremeceu tudo,
um temporal do lado de fora
um silêncio dentro de mim.
O céu estava negro
parecido com o meu banheiro,
molhado e cinzento.
Estou morrendo...
Um pensamento,
a resposta para minha própria pergunta
veio à cabeça em três palavras:

“Culpado, egoísta e Assassino”
Sim eu sou culpado,
e me arrastando até chegar ao quarto.
No dia seguinte fui socorrido
pela aquela que insultei e expulsei de minha casa,
a enfermeira Bianca.

PS: Tem certeza que ainda quer um assassino como padrinho da sua filha? Eu desejo muito ser o padrinho, por isso te contei a verdade!

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

A Carta - "Yasmim"













Sentei na sala com o notebook sobre a perna, comecei a ler seu e-mail. Que história triste! Sei que você mentiu pra mim, pra todos, mas você fez o que achou certo na hora, você sabia que estava errado, mas mesmo assim permaneceu no erro. O importante é recomeçar, redimir todas suas falhas do passado com humildade e sinceridade.... Seguir em frente! Quando comecei a responder seu e-mail, adivinha... A Bolsa dela estourou! Eram duas da manhã, eu não sabia o que fazer primeiro! Corri de um lado para o outro, enchi meu carro de coisas, um uno anos 90, não cabe quase nada, ela falando pra mim leva-la para o hospital... Gritando na verdade!

Já em direção ao hospital eu estava nervoso, ela segurando a barriga, eu não tive nem tempo de ficar feliz, fiquei preocupado com o bem estar delas, ela me olhou nos olhos sorrindo:
 “Estamos quase lá, fica tranquilo, só para de correr, isso está me deixando assustada, vai devagar porque a cada valeta tenho vontade de te matar.”

Realmente estava rápido. Tirei o pé do acelerador, respirei fundo, não conseguia parar de olhar para ela... A cada vez que eu fazia isso ela berrava falando para eu olhar pra frente. Cara, você não tem ideia de como eu estava, as mãos suavam feito nascente, o pés já estavam descalços no carpete barrento do carro, esqueci-me de calçar algo. Ao sair na correria de casa, fui direto para o carro, por fim sem um tênis, e pior, estava de pijama preto de bolinhas brancas, quem usa isso? Pois é, eu! Ao chegarmos ao hospital fomos entrando, eu gritando por um médico e ela tentando esconder o rosto de vergonha. Foi ai que o segurança do hospital, me barrou mandando eu ir calçar algo, na verdade em primeiro instante pensou que eu fosse algum dos doentes, pijama e descalço, fui obrigado a sair enquanto minha esposa era levada para a sala de parto, a dilatação dela estava perfeita. Enfim, corri no carro e coloquei a bota que uso para lavar o carro, que situação hilária. Do mesmo jeito que fui, voltei, olhando por onde ele foi. Falei com uma enfermeira, pediu para aguardar, jamais iria deixá-la sozinha na sala de parto. Decidi por eu procura-la, passei de fininho pela porta que dava acesso as salas de parto, adivinha, tirei o sapatão, me fingi de paciente, e fui invadindo, a cada vez que aparecia um enfermeiro, dizia estar pelo Dr. Armando, sempre tem um “Armando”! Sala a sala, porta a porta e nada, ai que, na última porta no corredor entrei, eu vi ela... Tentaram me tirar, ela gritou “É meu esposo!” Me deixaram ficar do lado dela! Segurei suas mãos! E olhou pra mim fazendo força e mesmo assim sorriu, como sempre fez... 
“Estamos quase lá meu amor, força!”
Movimentou os lábios... “Eu te amo!”
“Gemidos, pessoas de um lado, pessoas de outro, e uma dizendo para respirar fundo. Ela respirou, eu respire de verde que já estava me sentindo atordoado... Mais uma vez, força! E aquele som fininho, um choro do fundo d’alma, o primeiro choro ecoou pela sala... Yasmim nasceu!”
Ela com lágrimas nos olhos, eu com um oceano em queda livre:
“Parabéns papai e mamãe!”
Me aproximei dela com aquela túnica azul, e a beijei na testa...
“Parabéns meu amor!”
“Papai... Parabéns!” disse olhando em meus olhos, enquanto eu beijava sua mão. A enfermeira aproximou com ela nos braços, pequenina, branquinha, pálida... Linda!
“Ela olhou para aquele anjo em seus braços e o abençoou, aos prantos, uma emoção tomada por todos ali presente na sala, uma alegria incalculável que se possa dizer, uma mãe, uma verdadeira mãe se submetendo dedicar toda sua a vida aquela criança. Uma promessa não dita, apenas sentida, falada com os olhos!”
Novamente a criança voltou para os braços de uma enfermeira, e sai do local pra respirar... Encontrei meus sogros sentadinhos aguardando. Ele no caso perguntando como a neta era... 

“Linda, sem mais palavras linda, perfeita, como a mãe!”
Minha sogra chorou, já meu sogro... 
“Que roupa é essa?”
“No susto quando estourou a bolsa dela, sai correndo, acabei nem prestando atenção.”
“Nem pra calçar um tênis de pares diferentes? Preferiu vir descalço?”
Antes mesmo de ele acabar de zombar com a minha cara, o mesmo segurança que me pôs pra fora, veio em minha direção com o sapatão borrachudo na mão. 
“Acho que isso é seu, né?!”
A foi ai que meu sogro caiu na risada de vez. Ficamos ali os três, esperando pela minha esposa. 


Minha vida tem tomado um rumo diferente da sua. Você tem mais perdas do que vitórias... Uma coisa te digo, nessa vida nada termina! 
"A morte é a chance de eternizarmos nossos nomes na vida daqueles que nos amam, mas antes que Ela nos alcance, é necessário redimir com aqueles que erramos, e se não houver a quem se desculpar, seja um bom exemplo, abra seu coração, seja bondoso, seja humilde..."
Acho que não preciso lhe dizer isso, alias você deve estar se esforçando muito em assumir seu erro. Esse é um bom recomeço!



PS: Quero que você seja o padrinho da minha filha! E te deixou claro, você está desculpado por qualquer coisa. Alias, amigos servem para isso, perdoar e ajudar!

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

A Carta - "As Verdades que os Meus Demônios Contam"






















Morte... 
Dor...

Eu... Um tumor?
Será que irei sofrer antes do último suspiro?
Esses pensamentos têm sugado todas minhas energias,
toda minha alegria, 
todas as esperanças sendo estraçalhadas!


“Sinto os olhos arderem, inchados devido a um choro solitário, um mal estar no corpo, não consigo dormir a vários dias.”
A última refeição foi ontem,
antes de a noite revelar a meia lua.
Às vezes vejo minha mãe pela casa,
me dando bronca,
“Levanta dai rapaz, hoje ainda é dia de trabalhar!”
Trabalhar... Ela era forte!
Sempre disse isso me alertando...
“Trabalho te faz sentir útil e fortalece seu caráter, te dando uma personalidade honesta. Se você deixa sua mente vazia, é com o vazio que você convivera, é o mesmo que estar morto.”
Ela estava certa... Sempre esteve e ainda está!

Agora são quase três da manhã,
e a enfermeira dormindo na poltrona do outro lado.
A cozinha parece tão distante,
a casa tão gigante...
Olho para aquela escadaria negra,
uma pequena luz de fundo
vindo do corredor de acesso ao meu escritório...
Um vulto, “quem tá ai?”,
me aproximo lentamente,
degrau a degrau os calafrios aumentam,
as mãos suam...
Aquilo ou aquela coisa aparece por detrás de mim.
Uma voz:
“Eu sei onde você está indo... Só mais uma dose! Sim, você pode? Você quer, não quer? Eu quero... Pega? Quer mulheres? Vamos sair então! Venha, eu te levo!”
As paredes começam a descascar,
minha mesa desaparece
dando lugar a um balcão de bar.
A estante de livro é tomada por prateleiras,
fileiras de bebidas de todos os tipos surgem,
feito mágica uma garrafa de Whisky
desliza pelo balcão até minha mão... Estou na boate!
A mesma que eu e meu “amigo” frequentamos.
Mulheres sobre o palco,
nenhuma peça de roupa
nenhuma timidez,
apenas ambições e desejos!
Não consigo ouvir nada,
apenas a voz me incomodando:
“Vamos abra, uma dose... A dose se perde em um gole. Outra, do mesmo jeito!”
O lugar parece girar,
mal consigo parar em pé
estou com cede...
Estou morrendo?
“Sim, você está! Não vai demorar muito!”
Você não sabe o que fala,
deixe-me em paz!

A voz zomba de mim com risos...
Outras risadas surgem
novas vozes, novas acusações...
“Estou crescendo com meu suor... Mentiroso!”
“Estou feliz com o novo emprego... Traidor!”
“Eu amo você... Cafajeste! Você sabe quem é o culpado, a causa da morte dela!”
Não sei do que você está falando!
“Ah, você sabe!”
“Ele sabe sim!”
“Nós sabemos, seu bêbado!

Cala a boca!
Vocês não sabem o que falam...
Eu amava-a!

“Sim, você ainda ama ela!”
“Mas ele a traiu e levou-a para morte!”
Não é verdade, não é verdade...

Sim, era verdade!
Aquelas vozes,
aqueles sussurros
estavam me matando.
Eles estavam certos!
No dia que ela me ligou,
eu estava... Com a outra!
“Eu não tenho como me defender, sou culpado pela sua morte. Ela me ligou perguntando pra onde iriamos aquela noite, eu disse que nós não iriamos nos encontrar, porque precisava acordar cedo. Mentira minha, estava com a outra tomando sorvete, e dali, iria para um motel. O celular ficou mudo, pessoas aglomerando do outro lado da calçada, algumas pessoas gritando por ambulância, outros usando os celulares, fui até o local... Era ela! Estirada no chão, com lágrimas nos olhos, com a boca roxa... Sai dali o mais rápido possível, simplesmente fugi, fui um covarde o suficiente pra ver a merda que causei, mentiroso e repulsivo, o pior homem da espécie... Os paramédicos chegaram em questões de minutos após a algazarra. Rapidamente foi levada ao hospital, já não fazia mais diferença, ela teve uma parada cardíaca súbita... Alguns minutos depois voltei ao local onde ela estava caída, achei a correntinha que a dei de presente, a qual ela arrancou com ódio do braço... Estava toda arrebentada, amassada, impossível restaurá-la. Eu matei a única pessoa que me amou verdadeiramente... A emoção, a tristeza foi tanta, que ela não aguentou!
No dia seguinte tive que ir até a delegacia depor,
por ter sido a última pessoa a falar com ela,
eu menti...
Como naquele e-mail que te mandei,
eu disse a mesma coisa aos policiais.
Eu matei...
Eu fui culpado por sua morte!
“Agora sim, está sendo sincero, agora sim...”
“Ele tem medo da morte, não é verdade, seu fraco?”
“Ele tem medo das verdades, não da morte!”
“Fraco... Fraco... Fraco!!!”
As vozes foram desaparecendo,
os moveis voltando aos lugares.
Eu ainda com a garrafa na mão,
desisti...

Nenhuma dose a mais,
não enquanto eu respirar,
não enquanto eu puder viver em beneficio ao próximo.
Quero ser lembrado como uma pessoa boa,
justa, caridosa,
porque sei da minha real situação,
nenhum familiar irá pra velar meu enterro,
nem mesmo minha empregada iria...
Estive sujo por muito tempo,
vivendo com a culpa,
alimentando a minha ambição...
Dinheiro, sempre dinheiro!
“Um alivio, momentâneo, minha alma pede mais, acho que existe alguém que ainda acredita em mim, só pode ser Deus.”


PS: Me perdoe por não te contar a verdade, agora a beira da morte preciso ser sincero comigo mesmo, com você! E o meu presente foi graças a sua mãe, ela que me passou o celular do seu sogro, e assim acabamos combinando tudo!