Outra coisinha...

Não crie raízes em solo areoso, assim como não espere encontrar aguá em seu mais novo esconderijo, é preciso ser adaptável e constantemente ligeiro, toda mudança é um passo para o crescimento... Acredite apenas em si mesmo!


Você é o visitante:

A Carta

A Carta – “A Primeira Carta”

Olha, difícil falar contigo! Então o negócio é te escrever essa carta. Fiquei sabendo que as coisas por ai não tem andado muito bem, que a tristeza chegou e acomodou-se. Por falar em acomodação, te vi esses dias com uma cara de cansado... Melhor dizendo, ACABADO! Mas não fica assim não, porque a vida é assim com altos e baixos, o importante é sentir toda essa tristeza sorrindo e ouvindo uma boa música. É difícil na teoria, mas na prática é muito prazerosa. Rss... Deve estar achando que estou tirando uma onda com a sua cara, mas não estou! Pensa comigo, de que adianta chorar pelo leite derramado, se trancar no quarto, desistindo da vida sabendo que amanhã é um novo dia e com ele vem as responsabilidades? A forma de pensar de uma pessoa é a chave para as suas conquistas futuras, pessimismo só atrai cada vez mais desânimo, a preguiça se instala e aí “fode” tudo! E uma boa forma de se reerguer, é ajudar a quem precisa. Tipo eu, te ajudando estou me ajudando! É que tenho tido umas recaídas, mas nada de tão assustador. Apenas ganhei uns quilinhos, umas dobrinhas indesejadas, andei comendo muita porcaria. Hun, só de pensar me dá vontade! Também não é a melhor saída, porque pra algumas pessoas obesidade é sinônimo de vergonha e depressão, a mesma merda que você anda sentindo!
Mudando de assunto, adivinha quem encontrei na rua? Lembra da Taty, irmã da Luana, aquela que você deu uns amassos? Pois é, ela está linda! Toda sorridente, SOLteira... e indo a igreja! Ela diz que é por isso que está alegre, que encontrou seu lugar. Bom pra ela! Já eu, prefiro ter minha fé um pouco distante dessas estruturas de pedras. Desculpa, fugi do assunto, mas acho que seria bom você começar a buscar forças onde só o coração compreende. Tá, parei! Sei que não curte muito esse lance. Acho que estou começando a não saber mais o que te escrever. Deve ser esse sol insuportável vazando entre as venezianas.  
Abraços então garoto! Semana que vem te falo da garotinha que eu conheci, toda dengosa, delicada! Acho que estou apaixonado! Até mais!

A Carta – “Olhos Verdes”

E ai Ferinha? Está melhor? Espero que sim! Acho que não recebeu minha carta, né?! É que eu não tive nenhum retorno seu. Quando quiser pode me ligar, continuo com o mesmo número. Nossa, hoje estou um pouco cansado! Sai muito tarde da choperia, e tive ainda que descer a pé de lá. Na verdade sai cedo, já eram 5 da manhã. E vou trabalhar no restaurante, só estou passando em casa pra tomar uma ducha. Eu ia falar da garota que a conheci, por fim nem estou mais com ela. Tipo, ela é evangélica, e começamos a colocar defeitos... Não! Ela começou a colocar defeitos! Achou que o pai dela não fosse aceitar. Aí rompemos! Cara, sinceramente eu estava começando a me apaixonar, não sei explicar, mas desde o primeiro beijo na escadaria de uma praça, não consigo parar de lembrar. Foi uma coisa diferente! Mas deixa pra lá. Cara, ela é tão gatinha e carinhosa, que até o cheiro do perfume dela me deixou desnorteado, caidinho totalmente! Ela tem os cabelos dourados e ondulados... Os olhos... Os olhos me enfeitiçaram! Eles são verdes, com pequenos detalhes marrons próximos da íris. Em dias de muito sol, eles ficam com um tom esverdeado clarinho... Ah, como ela é linda! Ela é baixinha e eu também não sou alto, então combinou. Vou parar de escrever, o sono está começando a me pegar! Vou me tomar um banho pra despertar e ir pro outro trabalho. Hei, me dá uma resposta, um sinal de vida! Eu te escrevo assim que tiver um tempinho. Abraço garoto!

A Carta – “Ansiedade”

Fiquei alguns meses sem te escrever e nem é por falta de tempo, é que eu esqueci mesmo e você tem estado muito distante. Eu te vi no shopping há uns dois meses atrás, bem no momento em que você estava entrando na sala do cinema. Acho que foi no dia 5 de outubro, na parte da tarde. Eu me lembro da data porque a irmã do Juninho estava fazendo aniversário. Era uma galerinha agitada, hein?! E ai, rolou algo com alguma menininha? É que vocês estavam em casal, imagino que não perdeu tempo. Pois é cara, faz tempo! Hoje vou ver aquela pessoa que mencionei em abril. Comprei um presente de Natal pra ela, mas como passou da data nem sei se vou entregar. Eu o comprei naquele mesmo dia em que eu o vi. Ela estava de rolo com outro carinha... Estava! Porque agora não esta mais! E eu não desisti dela, na verdade ela nunca saiu da minha cabeça. Eu acredito que eu a esteja amando, sabe aquele amor pra vida toda? Cara, estou muito ansioso! Daqui a 4 horas irei vê-la.  Ela disse que precisamos conversar que tem algo importante pra me dizer. Será que ela sente o mesmo por mim? Não consigo me conter! Pensei que não fosse ficar assim, e quanto mais te conto sobre esse fato, mais ainda aumenta minha ansiedade, coração fica acelerado... Preciso respirar. Até mais pessoa, vou te escrevendo!

A Carta – “O Perfume”

Antes de qualquer coisa, feliz ano novo atrasado! Os anos estão passando rápidos demais, chegamos à casa dos 20 sem notar. Bom, sei que você já deve estar saturado com essa história, mas mesmo assim vou te contar. Melancia, esse é o cheiro mais próximo do perfume, do primeiro beijo. Eu fui me encontrar com ela no shopping aquele dia que te contei, acabei comprando um presente do qual já tinha mencionado na última carta. Cheguei 30 minutos antes e sentei de frente com o chafariz. Estava muito nervoso, com dúvidas se era a coisa certa a fazer, muitas coisas entravam em jogo, por eu ser cinco anos mais velho que ela, a possível rejeição dos seus pais e o preconceito dos amigos próximos. De alguma forma aquele chafariz me fez ficar, me acalmou me fazendo respirar. Dado o horário combinado, nenhum sinal dela. E se passaram mais cinco minutos e nada. Dez minutos e toda a minha calma foi para o espaço, dando lugar a ansiedade e gostinho amargo de “bolo”. Quinze minutos e perdi totalmente a esperança, já me conformando “Ela não virá!”. Mesmo com todas as esperanças perdidas, eu fiquei ali sentado, com olhar fixo no chafariz, ouvindo apenas o cair das águas... Ouvi uma voz vinda lá do fundo falando meu nome “Psiu!” Era ela! Sinceramente, meu coração quase pifou pela velocidade em que acelerou ao olhar aqueles olhos verdes, o contorno dos lábios, aquele sorriso arrematador. Fomos para a sala do cinema, assistimos ao filme e depois sentamos em um banquinho para conversarmos com mais calma e clareza. Ela me explicou o porquê de ter desistido da primeira vez. Quando estávamos ficando, ela saiu com um outro carinha, acabou ficou com a consciência pesada e decidiu terminar, fato que ela começou a namorar o “outro”, mas já havia terminado a 3 meses antes desse encontro. Por um momento fiquei puto da vida, mas eu a amo demais, então disse a ela que jamais tocaria nesse assunto se ela ficasse comigo... Não concordou! Ela disse que nossos estilos de vida eram muitos diferentes. Ela estava certa nesse ponto, aí me veio à música “Eduardo e Mônica” de Renato Russo... Eu estava disposto a qualquer sacrifício por ela! Acabei não insistindo, ela parecia abatida com aquela situação. Dei a ela o presente de natal atrasado, um perfume... O Perfume!  Ela descreveu: - Eu uso esse perfume, como você sabia? Eu não sabia, era apenas uma fragrância, que me recordava o primeiro beijo... Acabei comprando exatamente o perfume que ela me beijou pela primeira vez. Eu senti naquele momento um amor tão imenso vindo dos olhos dela, me fazendo pensar “Você ainda vai ser minha!”. Não tivemos muito mais o que conversar. Eu estava muito emocionado, ela ainda mais. Ela foi embora!  Hoje é dia 27 de janeiro, no dia 18 eu a vi novamente. Conheci a mãe dela e fomos assistir a um outro filme, nem me pergunte qual era. Ela usava o perfume que eu a dei. Com uma saia abaixo dos joelhos, toda detalhada com uma camisa branca de alcinha. Pedi-a em namoro... Velhinho vou indo nessa, ela acabou de chegar, está aqui em frente ao portão. Abraço! Eu te escrevo com maiores detalhes!

A Carta – “Escurinho do cinema”

Até que enfim você deu um sinal de vida, demorou pra me ligar, hein?! Mas que bom saber que as coisas estão melhorando por ai. Mas tem uma coisa que não concordo contigo, o fato dessas noites longas sem dormir, tem que se cuidar. Pois é cara, o assunto que você queria saber foi no escurinho do cinema dia 18 do mês passado. No mesmo chafariz do shopping, estava eu esperando por ela, adivinha só, ela se atrasou novamente, hehe... Nervosismo a flor da pele, unhas comidas e dedos mutilados. Mas dessa vez tinha algo diferente no ar, tudo estava tão mais fácil, confiante de que aquela noite eu seria correspondido... As luzes se apagaram, os trailers começaram a passar. No cinema, ou melhor, no escurinho do cinema rola de tudo, desde safadeza ao romance de princesas, pessoas se encontrando e até mesmo se separando, e ainda sim continua sendo um dos lugares mais visitados. Sozinho ou acompanhado é um lugar ótimo pra se ir! Acabamos sentados em poltronas com divisórias, melhor assim! Ao menos não dava a entender que eu estaria querendo provocar uma situação... Agora sendo sincero, eu queria causar, provocar, ocasionar uma situação! Que droga, pensei! Mas acabou sendo a melhor opção, me deu a chance de acalmar o coração e deixar a mente menos impulsiva o possível. Não sei o porquê, mas esse dia tinha mais casais do que o normal, abaixo de nós tinha um casal se beijando desde o momento que chegamos; atrás de nós uns que não calavam a boca reclamando do cunhado que era mulherengo; do lado direito um casal de nerds que não trocaram um único beijo e não tiravam os olhos do casal de baixo; e do meu lado outro que não sabia dar risada baixa, fora o barulho dos saquinhos de salgadinhos. Fiz um comentário besta, do qual deveria manter a boca fechada: - Acho que estamos sobrando aqui! No mesmo momento pensei “Cala a boca idiota!”. De repente ela colocou a mão sobre a minha, que estava no encosto do assento, me consolando: - Por enquanto! Como um eco ressoou por milhares de vezes em frações de segundos na minha mente, “Por enquanto, por enquanto...”, me aproximei... Bem lentamente fui aproximando meu rosto do dela, olhando em seus olhos, a respiração ofegante, ficando a centímetros a ponto de sentir sua respiração. Corri meus olhos até sua boca, tocando sua face com uma das mãos, percebendo o pequeno movimento de seus lábios e a beijei... Tão devagar... Tão lentamente... Apreciando cada movimento de sua boca... Tive o segundo primeiro beijo, o primeiro beijo de amor! Naquele momento o tempo parou, os sons se cessaram, as pessoas desapareceram... E não pude evitar, uma danada de uma lágrima escorreu pelo meu rosto. Cara, que vergonha! Eu, homem chorando? Ai ela passou a mão enxugando-a, e exclamou: - Lindo! Ao contrário de que a maioria pensa, não da pra se evitar o amor, ainda mais quando passamos a desejar incondicionalmente uma pessoa, podemos acabar sofrendo ou vivenciando um amor eterno, eterno o quanto dure. Eu estou disposto a descobrir. Depois de quase um ano nesse rolo, finalmente ela estava ali ao meu lado... Eu agarrado a ela e ela a mim... Fui mais a fundo e a pedi em namoro... Ela: - Eu aceito! As horas voaram a partir daquele momento, minutos se tornaram segundos, as horas eram minutos ao lado dela, desde então vem sendo assim. Não tenho tido muitas respostas para o que tenho sentido, mas posso dizer... Que... Estou amando! Acho que você precisa encontrar uma pessoa assim. Bom, cada coisa no seu tempo, né? Está ficando meio tarde, nós falamos em breve. Abraços!

A Carta - "Repugnante"

Na primeira dose de Wisky a garrafa afoga os cubos de gelo, nas próximas doses que se seguem eles nem mais existem, se desfazem feito você nesse quarto de hotel. Poucas horas antes ela quer te impressionar, acelera voando pela pista, deixando as mãos correrem coxas acima. Um lugar escuro, rua cumplice de muitas traições e desapegos, você a procura de um falso amor, ela a procura apenas de sexo. A porta fechada, cativeiro de gritos e gemidos, de dores e prazeres desejados, corpos estirados no leito de muitos outros que já se saciaram. A meia preta é arrancada aos dentes, tão rápida quanto a velocidade pra chegar até o local, a calça é arrancada como um embrulho de pirulito, a intimidade invadida com arranhões e chupões desordenados. Uivos, latidos, vulgaridade são como poesias despencando do espelho sobre a cama, ela reclama: - Não para! Uma vez mais, uma dose de conhaque se faz uso de um copo com marcas de batom. O mundo parece girar, a cama, a bunda dela sendo empurrada contra seu corpo, sua alma é devorada até a último pingo de suor. Pela manhã um bilhete, um telefone, ela se foi! Uma garrafa de conhaque jogada ao chão e a de wisky na mão, é assim que pretende levar a vida? Depois de tudo isso o que sobra pra você? Uma conta a se pagar, uma ressaca por dois dias a se curar e a sensação de solidão, vazio, do eu consumido em doses de arrependimentos. Cara, eu espero mais de você! Não se deixe levar por seus impulsos. Viver aventuras é uma coisa maravilhosa, mas só acho que deveria medir as consequências do dia seguinte. Essa é minha dica pra você. Eu te escrevo mais, quando ainda quiser me ouvir.

PS: Estou muito feliz com o meu namoro, faremos 4 meses amanhã. Abraços!

A Carta - "O Dançar da Borboleta"

Os olhos são encobertos pela sombra da árvore inclinada. O banco maltratado da praça nos acomoda e nos surpreende com uma visita inesperada. Cheia de dança e drama, em sua cor negra parece procurar algo, de um lado para o outro, sem nenhuma direção programada faz do seu vôo desenhos imaginários, dando a sensação de um corpo pesado e cansado. Negra, destacando uma pinta branca em cada ponta da asa, assim como as sete pintas na face daquela que se deita sobre meu peito, acariciando meus cabelos, beijando minhas mãos junto de um abraço apertado contra seu corpo. Não há malícia nos carinhos, apenas carinho, paixão... Amor! O amor é um sentimento traiçoeiro para quem não sabe compreende-lo, ao se amar uma pessoa é necessário calcular friamente o quanto se tem retorno, o quanto é recíproco, o quanto a pessoa é fiel! Amar é sofrer, se preocupar, se jogar de cabeça em espinhos e ainda assim continuar em frente, você querendo ou não abre mão de muitas coisas que é necessário para o relacionamento amadurecer, criando-se a confiança e respeito. Mas o amor mais duradouro e sadio é aquele que se voa livre, sem prisões, sem correntes ou algemas, em outras palavras ciúmes excessivos e desconfianças são como frascos de veneno tomado pingo a pingo, escurecendo a visão e roubando-lhe a sensatez! Ela era capaz de silenciar qualquer ruído com apenas um olhar, levando minha atenção para seus lábios ousados de mordidas incontroláveis na pele exposta a um fio de raio de luz que foge por entre as folhas secas. Tão pouco tempo, ela já me domina com seu jeito menina sedução, faz da ingenuidade uma arma contra minha paciência, tornando um lobo voraz atrás de sua presa desejando até o último suor. Uivando, meu ser transmite em formas de tremedeiras por todo o corpo, tornando a pele quente e ofegante, implorando "Pare!", e desejando cada vez mais "Me ignore... Continue!". E como a água gelada de uma correnteza ela me lembra "Ainda não!"... A borboleta continua sua dança se distanciando daquele banco, da minha visão, ambos percebemos o quanto há respeito, desejo, compreensão. O lobo uivante se acalma, com um beijo na testa e outro leve em seus lábios ela se vai.

"O efeito borboleta, uma ilusão de ótica, uma realidade distorcia ou teoria do caos, a certeza de algo é tão concreta e de repente o fato é outro."

PS: Caro amigo, sei que pode parecer que estou te ignorando, mas te mostro o amor, para que percebas que existe um DEUS, o qual você insiste recusar.

A Carta - "A Resposta, entendeu?"

Já vou te avisando que não sou tão bom com as palavras
quanto a você e sua mania de me analisar.
Primeiramente, odeio pessoas que cuidam da minha vida,
e diz a forma de como devo viver.
Segundo, o dinheiro que eu ganho e com o quê gasto,
cabe somente a eu decidir, se eu quiser torrar
ou enfiar em certos lugares de um(a) qualquer
o problema é meu.
Ontem minha cama recebeu duas luas,
uma beijava meu pescoço
e a outra que roçava uma das pernas sobre a minha.
Ambos procuravam prazer e sexo,
sexo gostoso, dos fodas!
Estávamos chapados de vinho, de tesão,
coloquei minha cabeça entre as pernas de uma,
enquanto a outra arranhava toda minha costa
junto de chupões e mordidas.
Uma voz no ouvido "Põe em mim!",
coloco pra dentro abrindo bem as nádegas
pra ver a merda que estou fazendo,
ela geme enquanto chupa a outra...
"Delícia de foda!",
a situação é mais obscena do que descrevo,
um tanto mais alucinante do que possa imaginar.
Beijamos os três num momento só,
assim como o êxtase é alcançado
comigo estirado sobre a cama
servindo minha lingua de consolo
e sentindo toda a satisfação em dose dupla!
Agora pergunto a você, já sentiu esse tipo de prazer?
Aposto que não! Mal sabe o que é amor,
nem sabe se ela te engana abrindo-se pra outro.
Sinceramente, minha vida é essa,
meu prazer está no sentido da palavra... Prazer!
Eu jogo e abuso das minhas oportunidades,
eu vivo a realidade de que tudo não dura pra sempre,
de que cada pessoa age de forma que julga ser correto,
necessário pra si, egoísmo em outras palavras.
Alias, você vive assim!
Na sua monotonia e monogamia.
Pra mim o mundo pode acabar hoje,
porque o que tenho de mais valor é
meu corpo e o sexo,
a coisa que mais me dá prazer
é uma bela garrafa de Whisky,
me faz sentir vivo!
Então essa é a resposta, entendeu?

A Carta - "Por-do-Sol"

De mãos dadas entre o aglomerado de pessoas indo e voltando
feito cena de filme em "slow motion".

Uma barraquinha de salgados a beira-rio
compramos um salgado e uma coca,
uma imagem fotografada na mente.

Sentados na escadaria do deck de madeira mais um click!
(All-Star azul e a latinha de refrigerante ao lado do tornozelo cheio de correntinhas.)
Me sentia a pessoa mais amada do mundo
uma alegria tão constante que o choro era quase inevitável...
Ela levando o salgado até minha boca
eu fazendo o mesmo com a coca-cola transpirando em minhas mãos,
momento único... único em minha vida!

O Sol caía em seus olhos!
A motinha parada no semáforo... mais um motivo de um novo retrato.
(Em cima da moto aquele sorriso estampado, os olhos entreabertos olhando para os meus... Click!)
Ela me agarrando forte enquanto eu acelerava me dizendo:
(-Te Amo!)
Coração transbordando, o amor me ensinando a recompensa pela humildade.
Me diz como odiar o mundo que me oferece o prazer, a dor mais gostosa da face da terra?
Poderia estar triste com tudo, mas aquele sorriso... aquele jeito de sorrir,
me tirava toda angustia, todo o sofrimento com um simples abrir de canto dos lábios.
Ela era capaz, sempre foi muito boa em tornar-me uma pessoa melhor.
E mesmo que esteja longe só de pensar nela, lembro desses momentos,
então sinto que realmente... encontrei o meu amor!
Eram tardes de domingos que me faziam forte, confiante... Ainda me fazem!

É estranho como o Por-do-Sol lhe cai bem diante dos meus olhos,
como se ele te desse todo o poder de me seduzir
dominando meus movimentos que me guiavam até seus lábios,
um beijo salgado, junto de um leve doce, numa macies indescritível.

Em um outro momento, outro dia de fim de tarde, você saindo da piscina...
(Surgindo do fundo da piscina subindo pela escada olhando para mim. Face molhada, boca entreaberta, olhos de desejos, gostas escorrendo em direção aos seios... Que tortura!)
Um ano de namoro,
um ano cheio de surpresa e amanhã
02 de Fevereiro de 2007... PRAIA!!!

PS: Li sua carta, fico feliz por me responder. Te entendo, mas acho que seu estilo de vida está te levando ao precipício... Se cuida!

A Carta - "Ritual"

É a segunda vez que te respondo por carta,
prefiro e-mail's...
Essa sua história com a namorada
é toda romântica e tudo mais,
mas não é pra mim, digamos que...
Sou o oposto de você!
Nem por isso deixo de ter um romance,
as vezes com duas ao mesmo tempo,
na mesma hora!
Lembra do povo que tu me viu no ano passado?
Pois é, uma das esposas dos meus amigos me ligou,
falando pra visita-la
porque ela ia fz um jantar com o outro casal de amigos.
Quando cheguei lá a mesa de jantar não existia,
apenas uma mesa pequena
acomodando uns aperitivos de frios.
O outro casal.. só foi a esposa também!
Pensei comigo "A merda tá feita!".
Sentei ao meio todo escoltado pelas mesmas
sedentas de "suor".
Digo isso porque lambiam e me chupavam sem cessar,
deixando marcas por todo o pescoço.
Fui rápido e sugeri o vinho já posto nas taças,
consegui alguns segundo de oxigênio.
Pela primeira vez conseguiram me deixar constrangido!
Posso ser o maior canalha do mundo
mas jamais saíria com mulher de amigo meu!
Mal acabava de tomar a dose da perdição,
e outra mais era seduzida aos meus lábios.
Uma após outra fui perdendo a razão
e abrindo espaço para o cálice do exibicionista do meu ego.
Pernas roçando sobre as minhas
seguidas de mãos invasoras no sexo desperto.
Pouco a pouco minhas roupas foram desaparecendo feito mágica,
tudo rodava, tudo se transformava em assédio...
Senti algo escorrer pela minha costa,
vinho e uma boca segurando uma pedra de gelo
que descia pela minha pele toda iludida a temperatura
pelos saltando, um arrepio incontrolavel,
ela sabia o que estava fazendo!
Toda a sanidade se foi, rasguei a calcinha de uma
e a outra tirei aos dentes,
outras peças foram rasgadas..
os amigos? Que se fodam!!!
Quem mandou eles trabalharem de madrugada,
nem pensava mais nisso,
eu preciso de mais bebida!
Abri meu Whisky predileto,
se elas planejaram isso,
não havia como resistir.
Estava entregue a todo esse ritual de pocessão,
de dominação das ondas de prazer...
Oque fazer? Sair correndo? Você resistiria?
Vou te dizer uma verdade,
eu imaginava toda essa situação,
só não esperava as duas ao mesmo tempo!

PS: Era digital cara, manda e-mail... tá ai! a3vidos@hotmail.com abraço cara!

A Carta - "Papeis Trocados"

Prefiro ficar com as canetas mesmo, e-mail não é tão confiável pra mim. Olha esse ano to meio desanimado, devido as muitas discussões aqui em casa, e de certa forma com a namorada. Tenho discutido muito com ela por besteiras, ciúmes bobo por parte dela, e ouvindo sermões de pessoas que não tem um pingo de dignidade. Perco o sono a cada dia que passa, tenho me perguntado se ela ainda gosta de mim... Eu tenho tido pesadelos constantes, passando as noites escrevendo merdas, contradizendo todas minhas idéias. Eu que tanto te escrevi dando-lhe conselhos, agora mesmo não me sobrou nada, apenas desgosto pela vida. Não estou mais morando em casa, fui pra casa de uns primos, perdi meu emprego, estou totalmente desestabilizado sem ter como pagar minhas contas. Estou matando a minha sede com meu próprio suor, me afogando no amargo do desprezo alheio, andando pra cima e pra baixo sem encontrar soluções, estou sugando minhas últimas energias em vão, depositando esperanças em coisas sem base alguma. Ela me visita por muitas vezes dócil, tentando acalmar o mar raivoso em meu coração. Nos deitamos grudadinhos em uma cama gelada, onde minhas lágrimas escorrem por seus seios descobertos, não sei mais como diferenciar sonho de realidade... "Por Deus, obrigado por estar comigo!" falo em pensamento. Acredito estar fazendo mal a ela, criando uma vontade imensa em abandona-la, sabendo que esse abandono seria apenas da minha fonte de energia, de vida... Estaria eu desistindo da verdadeira razão por persistir. Não sei o que seria de mim sem ela!
Um momento de silêncio um som estridente percorre o corredor da casa, vidros feitos em estilhaços quebram ao se tocar ao chão em um segundo choque, uma mão cortada com cacos ainda grudados deixando fluir um rio de sangue... Meu ser se acalma ao ver meu próprio vermelho jorrar feito cachoeira veloz, acabo caindo em um choro compulsivo junto de um desespero incontrolável, imagino com posso ser alto-destrutivo! Cortar os pulsos passa pela minha cabeça em uma fração de segundos, e outras formas de cessar minha respiração, mas sou muito covarde pra isso, ou talvez inteligente demais em perceber que sou tolo o suficiente em insistir no... Amor, é algo que tenho recebido de uma única pessoa, será que sou tão ridículo a ponto de poder contar com uma única pessoa? A mim me basta! Que se foda o resto! Não sou de falar palavrão como você,  acho que estou caindo em contradição!

PS: Sem condições em continuar a te escrever, preciso tentar dormir, estou muito cansado!

A Carta - "Lágrimas e o Sino"

Eu sei o quão sou repugnante,
a ponto de enojar muitas pessoas com minhas escolhas,
mas o que posso fazer se o mundo me fez assim?
Ela morreu sem poder se despedir de mim...
sem ao menos um último beijo.
Era um sábado quente de céu azul sem nuvens,
ambos grudados ao celular decidindo o local da diversão.
Estávamos tão apaixonados, bobos de amor...
Silêncio do outro lado da linha,
barulho de pessoas se aproximando
todas falando ao mesmo tempo,
enfim alguém pega o celular na mão...

"Alô, quem fala? Alguém ai do outro lado?"

uma voz me responde:

"A moça está caída aqui, acho que esta desmaiada..."

"Como desmaiada? Ela está machucada?"

"Não, ela falava ao celular e do nada caiu no chão,
mas fica calmo as pessoas aqui já estão ligando para o resgate."

Senti a cabeça pesada, o corpo mole,
o oxigênio faltando em meus pulmões...
Calmo? Como ficar calmo numa situação dessa?
Minha cabeça pensando um milhão de coisas,
imaginando trilhões de merdas, menos que ela...
morreria...
ali, naquela calçada fervente.
A ambulância chegou no local pouco mais de 10 minutos,
já não era necessário os serviços deles
ela teve uma morte instantânea,
uma aveia dentro de sua cabeça se rompeu
tendo então uma hemorragia interna.
Fui até o local de táxi, ela já não estava mais lá,
as pessoas que ali permaneceram
comentavam a morte de uma garota toda alegre
e despencando ainda com sorrisos nos lábios.
Mais ao canto da parede junto de uma moita
a pulseirinha que dei a ela em seu aniversário de 19 anos,
com a frase "Sorria, Eu te amo!".
Usava essa frase sempre que chegava próxima de mim triste,
quando discutia com os pais ou até mesmo comigo.
No hospital, a mãe dela chorando batendo em meu peito
repetia várias vezes "Porquê? Porquê?",
seu pai estava estático, parecia estar em um sonho... Pesadelo!

Eu já não tinha rumo, desejos, fé...
Naquele momento duas pessoas haviam morrido,
passei a ver o mundo com outros olhos.
Muitas coroas espalhadas pelo recinto,
assim como os familiares e amigos.
Nunca vi uma pessoa ser tão querida e amada,
ela era especial,
meu amor.
Tão próximo dela e ao mesmo tempo tão distante,
logo seria pra sempre,
logo seria... Lembranças, apenas lembranças.
Não sai um minuto do seu lado,
não deixei um segundo de olha-la,
nunca deixei de senti-la,
ainda a sinto como se ainda estivesse aqui,
ela está... Em meu coração, nos meus sonhos,
ela ainda vive em mim,
seu amor ainda corre pelo meu corpo.
A minha hora estava acabando,
o padre veio orar... a benção.
O coveiro aproximou com o carrinho para levar o cachão,
meu coração morreu mais uma vez,
ainda segurei as lágrimas
num esforço absurdo.
A cada metro percorrido até a cova,
meu sepulcro, parecia não respirar,
não conseguia reconhecer ninguém,
Eu era só dela, sempre fui!
Cheiro de flores,
um vendaval incessável,
um som agudo de uma placa solta,
pendurada por um arame de um túmulo
me tocava a alma ao me fazer olhar para os outros
que ali descansavam por mais de 10 décadas.
As folhas caiam, o sol fugia às 17h50
a última despedida...
Caixão sendo aberto,
aquele anjo se fazia presente pela última vez
era o último contato físico...
o silêncio me torturava,
porque podia ouvir os berros de sua mãe
a oração de seu pai
o meu coração sendo extinto...
O meu amor foi lacrado junto daquela caixa,
e como se guarda talheres em gavetas
ela foi escondida do mundo... De mim!
E quando todos começaram a desaparecer dali,
sentei ao lado de seu leito...
"Eu te amo! Nunca pude entender esse amor
que vinha de você por mim,
nunca imaginei encontrar uma pessoa...
Palavras em vão,
acho que agora você agora sabe o que sinto
o amor que descobri em você
o amor que você me ensinou a viver,
obrigado... Meu amor!" 
As lágrimas começaram a escorrer pela minha face
espalhando-se pela terra vermelha no chão
onde formigas depositam grão a grão.
Todas as lembranças com você
começaram a passar como um filme
diante dos meus olhos vermelhos.
E numa pausa brusca,
os sinos começaram a soar,
a cada badalada me causavam dor... no peito, na alma,
uma a uma, a dor de ter que sair dali,
a sexta e última badala me obrigou a levantar
e partir... Ao ver os carros na avenida,
aquela multidão de gente,
caia na real... Estou só!

PS: Eis o porquê das minhas atitudes, o porquê em eu ser o que sou, uma tábua oca, vazia... Eu ainda a amo, amarei... Mesmo em sonhos... É o que me resta!

A Carta - "Assim que você acordar"

A seu último e-mail me pegou de surpresa, não sabia que você tinha perdido a namorada assim. Sinto muito por ter te julgado mal, me perdoe. Eu entendo o que você passou, na verdade eu imagino, eu sinto que estou perdendo a minha também. Os meus erros, os erros dela, os erros dos pais dela estão nos afastando pouco a pouco... Acabamos dando um tempo! 

"Quando o coração fala mais alto que a razão, podemos contemplar toda a intensidade que ele pode proporcionar, paixão, alegria, ciúmes, dor... As dúvidas são o início do fim, a confiança o antidoto pra sua alma, sábio aquele que apenas ouve, tem todas as respostas pra si."

Em um momento de desconfiança acabei ofendendo-a de uma forma lamentável. Devo a ter assustado, primeira vez que ela me viu com chamas nos olhos, um ódio dos infernos, eu me vi pela primeira vez nesse estado.  Ela está trabalhando pra um "Cara", e justo em um dia que jantávamos em um restaurante à beira rio peguei uma mensagem estranha, ele se dirigindo a ela como "minha princesa"... Puta que pariu! Um Ódio, Uma Raiva... Qualquer outro teria agido como eu! Não deveria ter dito as palavras horrendas... Eu não pensei... Eu apenas comecei a falar alto com ela, batendo com força na mesa, espirrando comida de nossos pratos, deixando os olhos de curiosos nos devorar... Eu fiz tudo errado! O garçom tentou me acalmar... Pra quê ele foi se intrometer? Eu estava fora de mim, eu o empurrei fazendo cair sobre uma mesa de idosos que acabara de chegar. Enfim, fomos "convidados" a sair, e pagar pelos estragos, nada mais do que justo... Naquele momento não paguei merda nenhuma. Sai de lá sem pagar e discutindo com ela. Aquela noite, quando mais calmo, sugeri irmos pra um motel para conversar, rejeitou em um reflexo impressionante... De tanta insistência acabou indo.  Passamos a madrugada acordados um de cada lado da cama, sem trocar uma palavra... Cai em um sono profundo...

 "Podia enxergar o céu no teto de meu quarto, as estrelas, o universo... ela ao meu lado em um gramado feito algodão sorrindo ao ver as estrelas cadentes. Eu podia ver o paraíso naquele sorriso, o meu leito em teus seios, a minha boca no mais doce veneno do amor, um mal necessário... Não conseguia deixar de olhar o reflexo dos planetas naquele olhar congelado... Luzes brilhantes dançavam no céu, pareciam anjos, talvez apenas vagalumes, variadas cores que ofuscavam nossa visão... um sonho!"

Acordei com ela saindo do banho, abri um sorriso e lembrei o que eu fiz, tratei logo em me desculpar, não era o suficiente. Meus olhos ardiam naquele sol ao vê-la ela entrar em sua casa... Fui até o restaurante pagar o meu estrago. Não tinha dinheiro suficiente, alias desempregado, o dinheiro do seguro desemprego acabando! Acabei sendo humilhado de uma forma justa pela minha atitude, injusto o que eu fiz a ela. 
Uma semana inteira sem nos falar, mais de dois dias sem dormir, parecendo um zumbi, pensando "Será que ainda pensa em mim, minutos antes de dormir?". Precisava falar com ela. Fiquei mais de doze horas sem comer, plantado em frente a sua casa. Decidiu conversar comigo... Resultado da conversa... Terminou o namoro! Minha boca seca, a respiração ofegante, desespero tomando todo o corpo, implorando... Não! Foi apenas o que eu ouvi! Só cabia uma coisa a mim, aceitar.
 Fecho os olhos desde então todas as noites imaginando o que estamos perdendo, o que eu estou perdendo! "Nunca vou conseguir fazer outra pessoa ver as mesmas coisas que ela vê em mim!" Ainda me pergunto: Assim que ela acordar, será que vai lembrar de mim, ?
Em nenhum momento ela retrucou meus insultos, e nenhum momento agiu de forma hostil, isso que mais me corta o coração, ela engolir tudo calada... Poderia ter me dado uma bufetada na cara, mas não, nem mesmo um "Cala a Boca!"... É cara, to perdido, não sei o que fazer!
Acabei de receber uma mensagem dela... Disse pra mim ir até sua casa. Vou correndo lá, tchau!

A Carta - "Um novo coração"

Recebi uma mensagem para ir até a casa dela... Mas antes precisava tomar um belo banho, aparar o matagal em minha face e respiração... A ansiedade estava me matando, roubando todo o oxigênio de meus pulmões. Abri a ducha deixando escorrer água gelada por todo meu corpo, lavando assim a minha alma manchada pelo pessimismo e angústia. A pele estava tão quente devido a esses dias tão abafados, mesmo com a água fria se formaram vapor no espelho. Deixei um recado pra mim mesmo, um recado que deveria ler ao voltar... Escovei os dentes em uma velocidade que me causaram ânsia. Me troquei tão rápido que nem havia percebido pares diferentes de tênis. Eu sabia que naquela conversa seria decidido tudo, o fim... Ou o meu desejo!
Quando cheguei ao seu portão, seu pai me aguardava com um olhar sério, só que pela primeira vez... Mais amigável! Ao entrar na sala ela estava sentada de um lado e a mãe do outro. Por um momento fiquei assustado... Cálido, olhei na direção dela, haviam anjos dançando em seu sorriso, me olhava profundamente tocando meu coração e dizendo “Está tudo bem!”... A face rosada junto de um brilho inexplicável irradiando daqueles pequeninos verdes... seu pai tomou a iniciativa: 

“Nunca fui com sua cara!”

“Pai..”

“Calma, deixe-me continuar... Nunca nos demos bem, nunca abri uma única brecha para tornar isso possível. Sou falho, errei muito com ela, comigo mesmo, e por consequência acabei perdendo todo meu respeito por minha esposa, discutindo e tudo mais, mas isso agora não vem ao caso. Fiquei sabendo do ocorrido no restaurante...”

“Senhor, eu...” 

“Derrubou o garçom na mesa de idosos, quebrando algumas coisas, e não pagando a conta. Por causa de uma mensagem... É, estou sabendo! Mas não o culpo, já agi assim, e sei o quanto é ruim se sentir ameaçado... Ciúmes é um sentimento traiçoeiro... Sem rodeios, o que eu quero dizer é que a partir de hoje, eu e minha esposa vamos dar a vocês todo nosso apoio, alias não é sempre que recebo a notícia de que serei avô!” 

“Avô? Pai? Eu?”

Não sabia se sorria, se chorava... Olhei para minha sogra com lágrimas nos olhos pedindo  confirmação:
"É verdade, serei pai?

Um sinal de sim com as mãos na boca segurando o choro...
"Sim, meu amor! Eu tô grávida!"

Num salto controlado, me ajoelhei debruçando sobre suas pernas, segurando sua face...
"Eu te amo!"     

 Ela sorrindo junto de um choro compulsivo dizendo que me amava, fomos interrompidos:
"Mas agora eu te pergunto, como vai ser?"

"Quero me casar com ela! Quero casar com você meu amor! Sei que estou desempregado, mas isso é por pouquíssimo tempo, consegui um trabalho, ou melhor, uma entrevista, vou me esforçar ao máximo... Pra que essa criança, pra que nós sejamos muitos felizes."

"Era essa posição que eu espera de você rapaz! Sei da sua situação, que tem passado por uma situação complicada, financeiramente falando... Enfim, vou fazer o casamento dos dois, não é nada demais, mas acho que isso merece uma festa..."

"Mas senhor..."

"Primeiramente, pare de me chamar de senhor! Segundo, é apenas uma forma de redimir com a minha família."

Sem palavras... Nada poderia ser mais perfeito, nada poderia me deixar mais feliz... Ser pai, ter meu amor de volta, e ainda mais ter a aceitação dos pais dela. Ele me puxou pra perto, com uma cara séria...

 "Toma juízo"

"Sim, senhor!

"Só uma coisa, quando for casar, cuidado para não usar um sapato diferente em cada pé!"

E uma surpresa a mais, e em um único abraço, os quatros juntos... Veio a mente a imagem da palavra no espelho... Fé!!!

"Acreditar, ter fé, cabe somente a você obter essa dádiva. Primeiramente deseje de todo coração o que se quer, então você obtém respostas quando menos esperar"

PS: Amigão, vou ser pai cara! Espero seus e-mails!

A Carta - "Whisky e Calcinhas"

Pai? Jura? Nossa que surpresa!
Pois é, na minha situação não saberia o que fazer,
esse negócio não é mais pra mim.
Você é uma pessoa de sorte...
Queria ela ao meu lado!
As portas do cemitério estavam se fechando,
ao por os pés pra fora daquele local
percebi o quanto ele cheirava a flores,
eu podia decifrar o cheiro de gasolina e de álcool perfeitamente
devido o odor impregnado em mim.
O gosto salgado de minhas lágrimas não me deixavam surtar,
perder a razão de realidade e pesadelo.
Antes fosse um pesadelo...
A caminhada até o pé de minha cama
foi longa... Por horas, segui enfrente...
por várias ruas passei,
algumas delas por mais de uma vez.
Não sabia o que eu estava fazendo apenas pensando... Nela!
Nem sei ao certo por quantos dias mal sai de casa,
ou até mesmo de meu quarto.
Minha mãe toda preocupada comigo, coitada,
me espiava por inúmeras vezes pelo vão da porta
procurando me consolar... Não havia consolo!
Toda a dor pela qual estava passando, era necessária,
a recuperação era somente minha,
dependia somente do meu amor por mim mesmo.
Até eu descobrir isso, vaguei feito fantasma, feito vagabundo...
Andei por ai conhecendo quem não devia,
satisfazendo minhas magoas no álcool,
de boteco em boteco, de pronto socorro a hospital,
uma morte em vida...
Para não matar minha mãe de desgosto
acabei ficando quase um ano dentro de casa,
preso, aprendendo a virar homem, se tornar  maduro.
O sacrifício de minha mãe a deixou doente,
devido a sua vida de fumante a levou ficar de cama,
câncer... Acho que não preciso descrever isso!
Conheci uma pessoa que me ensinou a trabalhar,
a apreciar Whisky, e ignorar as mulheres.
As vendas de carro estavam em alta,
devido ao baixo custo dos impostos,
por Deus, por sorte, foi a minha salvação.
E quando parecia que tudo ia melhorar,
minha mãe faleceu seis meses depois...
Mais uma vez retornei aquele local deprimente com cheiro de flores...
Comprei muitas flores de jasmim,
deixando meu ser formar oceanos de lembrança,
as vezes turbulentas, mas sempre com ela... "O meu Deus!",
as mães deveriam ter esse subtitulo "Deusas"
sempre me resgatando dos caminhos errados.
Ela se foi, eu prossegui...
Meu mestre e mentor me apresentou os melhores Whiskys,
as mulheres mais gostosas das casas noturnas.
A cada amanhecer de domingo a mesma garrafa de Whisky,
uma mulher diferente, uma calcinha de medalha.
Elas não se importavam por eu levar suas partes de baixo,
e ainda me perguntavam: "Quando será a próxima vez?",
respondia sem demora "Logo!"
e nunca haveria uma próxima vez.
O interesse de cada uma estava nas notas,
na sincronia dos peixes e no rugido das onças...
Meu mal necessário, minha perdição controlada,
minhas medalhas penduradas em um armário de relíquias no sótão.
Estou podre de rico assim como minha alma apodrecida,
vivendo esse cotidiano sujo,
onde cada pessoa quer comer a outra
metaforicamente/literalmente falando.

PS: Vou sair daqui à pouco, felicidades ai, Papai!

A Carta - "Simples Detalhes"

Acho que estou me acostumando com o fato em ser pai. Na verdade estou amando! Achei que meus pais fossem surtar, até que minha mãe reagiu bem... Ela estava na mesa de jantar, tomando seu café com umas torradinhas rebocadas com geleia de uva:

"Mãe tenho uma coisa pra te contar, eu..."

"Eu o quê muleque? Fala logo!" Seus jeito grosseirona...

"Eu vou... Ser pai!"
Sentei à mesa... Em um movimento impulsivo já me preparando pra gritaria, colocando as mãos no ouvido e abaixando a cabeça, fechei os olhos e aguardei as ofensas...  Um silêncio total, nenhum grito, nenhuma palavra se quer, olhei novamente pra ela... Aos prantos, os soluços se iniciando, aumantendo vagarosamente, a colher sendo deixada sobre a mesa... Um último gole demorado do pretinho que eu odeio, tomou folêgo respirando fundo,  "Agora começa a resmungar, pensei", estava quase certo:

"Você chega com essa notícia na hora do meu café, interrompendo o único momento que tenho paz pra me dizer que será pai? Me dá um abraço, seu anta! Avó?"

"Sim, mãe!"

"Quantos meses? Faz tempo?"

"Um mês e meio... Fiquei sabendo ontem, aquela hora que sai correndo com você entrando pelo corredor."

"Mas e os pais dela?"

"Pois é, vamos nos casar!"

Aquele bafo de café me beijando, me apertando e dizendo que estava muito feliz, me deixou totalmente surpreso. Na verdade os dias tem conspirado pra mim de uma forma surpreendente, igual ao escritor W.Trindade "A vida é um Kamikaze, ele gira-gira, para em seu ponto mais alto, o que pode significar seu sucesso ou seu abismo, retornando ao seu ponto inicial". Ele quer dizer que a vida é um ciclo vicioso, em que você pode fazer dela um mar de rosas ou um abismo de espinho, você escolhe se deseja ser feliz ou não, e após fazer suas escolhas surpresas podem acontecer. Espero que quando o meu Kamikaze voltar ao ponto inicial, desejo ter deixado boas recordações, um nome pro meu filho se orgulhar e dizer "Esse foi meu Pai!". Minha mãe, essa é um poço de mistérios, esforçada... a vida lhe ensinou a ser assim, durona, cara de pau, já meu pai, faz o tipo Frouxo, morre de medo dela quando discutem, então fica calado... Brincadeira, ele respeita muito ela, e admiro isso nele! Alias, que mulher não é estressada de TPM?
To te escrevendo só agora, três meses depois, porque minha namorada tem estado muito manhosa, carente, será que toda mulher quando grávida fazem isso, chamar atenção pra elas? Corrigindo, minha noiva! Pois é, noivamos mês passado. Ela vive me pedindo pra comprar umas coisas diferentes, diz que tá com desejo, e eu bobão do jeito que estou... Vou correndo! Exceto quando estou no trabalho, pois é, graças a Deus consegui um emprego. Estou trabalhando como segurança de um mercado, não ganho muito, mas já é o suficiente pra suprir as necessidades.
Já aproveitando por meio desta carta, estarei enviando a você o cartão do meu casamento daqui a dois meses. Meu sogro ta cuidando dos preparativos, então nem sei como será ou onde ocorrerá, assim que tiver uma resposta te aviso.
Ela esta de quatro meses, barriguinha já aparecendo... Quando me deito a seu lado, amo ficar sobre seu seios alisando a "inchadinha", imaginando o que me espera. Um cafuné gostoso e longo, me dando todo o carinho, eu não tão diferente em minhas caricias. Peguei sua mão, levando sua palma até meus lábios beijando cada ponda dos dedos, cada canto, cada detalhe, cada traço daquela mão tocando minha face. Do centro subindo aos beijos pelo braço, até chegar na base do pescoço, em direção aos ouvidos... Eu te amo! Não cansava de dizer, de amar! Deitamos em conchinha, e conversamos por horas até cair em um no sono gostoso. Vê-la dormir, vê-la suspirar, fazia meu ser transbordar de amor, de paz, uma alegria fora do normal, esquecendo de todas opiniões contraditórias. Esses simples detalhes, me faziam crer que existe um Deus imenso cuidando por nós, chorando junto, a cada momento como esse. Simples momentos fazem da vida algo nostálgico em um futuro presente não tão distante, são as fontes de superações de todas preocupação ou desafeto. Não existe coisa mais divina em ser pai, transforma nós homens em um poço de sensibilidade, um mar de emoções... É como se fossemos tocados pelos anjos, tomando o posto de Guarda-Costa! Não consigo conter minha alegria!

PS: Nossa, não sabia também de sua mãe... Imagino como tem sofrido e se sentindo só, se for possível, passa em casa, ai conversamos melhor! Abraço Cara!

A Carta - "O Silêncio e as Pedras de Gelo"

Sala escura dominada pelo silêncio,
um pequeno tripé de luz sobre a mesa de centro,
claridade tão baixa visível somente o copo vazio...
o meu vazio!
A garrafa está no chão pela metade
assim como a minha sanidade,
uma monotonia dilacerante
junto de um tédio grotesco... 
Uma paz indesejável!
Nenhum som, nenhum ser, me vejo só,
totalmente entregue aquele copo,
alias, esse tem som...
As pedras de gelo caem estridente contra o vidro
ecoando para dentro de minha alma
causando um alvoroço na “minha calma”,
despejando lembranças sórdidas,
nostalgias de um passado muito passado.

“Me enxergo ainda uma criança humilhada, onde os riquinhos zombavam de meus chinelos remendados, me fazendo procurar amigos dentro de um orfanato. Todo dia próximo da hora do almoço pulava o muro do orfanato para brincar com as crianças e aproveitar a comida da Dona Aurora, uma senhora gordinha sempre de lenços na cabeça, sempre com aquele sorriso da cor da noite e olhos refletindo o oceano, sua feijoada fazia jus as suas raízes.”

O efeito do álcool começam a me possuir,
tudo que vejo, os objetos, parecem dançar valsa
uma coisa totalmente desfocada,
junto de um vento frio, talvez do copo gelado.
Sentado nessa poltrona, todo jogado,
me faz lembrar ela,
se jogando por cima de mim na cama
junto de uma reclamação, que sou espaçoso...
Mais uma dose junto de umas pedras
quebrando o silêncio.
A cada gole sentia abrir as portas para o desconhecido,
no escritório sozinho...
Nenhuma música,
nenhuma mulher,
nem mesmo a empregada estava presente,
sendo assim decidi que era hora de dormir.
Levantei de um jeito todo estabanado,
derrubando meu copo, a garrafa... Vazia!
A cada degrau em direção à cama
parecia me castigar com pontadas na cabeça,
uma dor a ponto de querer batê-la contra a parede,
algo não estava bem em mim...
Geralmente sinto isso só no dia seguinte.
Longos dez minutos se passou
até conseguir sentar a cama...
O dia lá fora estava claro e cinzento ,
um dia chuvoso, os galhos na janela,
se batendo, se contorcendo do lado de fora
como se quisessem entrar...
Estava tudo rodando!
Não sei ao certo o que vi ou o que ouvi,
mas eu vi... Ela...

“Surgindo do breu, levitando, com um olhar triste, vindo em minha direção. Olhos fixos aos meus, os cabelos flutuando para todos os lados como em câmera lenta, ficando a um palmo da minha face, deixou escapar um sorriso... Eu chorei!”

Tentei passar a mão em sua face
e tudo se desfez como areia,
escapando entre os dedos
desaparecendo antes mesmo de tocar o chão .
Tudo parecia tão real... Ilusão?
Loucura talvez, mas não, eu senti o perfume dela!
Tenho certeza disso, mas como provar algo
que não se pode ver apenas sentir?
Isso é o que me sobrou, sua fragrância!
Sua alma?
Os meus sonhos!
Neles ao menos posso toca-la... Senti-la!
A escuridão do meu quarto...
Lembro apenas disso!

"No dia seguinte estou nu
estirado no chão do banheiro
com um corte profundo no supercílios,
não sei o motivo,
nem lembro do acontecido...
Como estou sendo auto-destrutivo!"

Sei que minha vida tem sido fútil,
achando que o dinheiro compra tudo,
porém essa não foi a criação que tive...
"Minha Deusa" me ensinou que a simplicidade é a chave
de todos os corações!

Foi o último pedido dela:

"Seja humilde meu filho, me prometa isso!"
Eu prometi...
Apenas não comecei a cumprir com minha palavra!

PS: Estou com fortes dores de cabeça, e te relatar isso, deixou a vista um pouco turva, vou descansar um pouco. Não esquece do meu convite!

A Carta - "Luau Azul"

Noite de Lua Azul, presente melhor não poderia ter recebido de meu sogro. Alugou uma casa de praia, organizando todo o casamento de frente com o mar. O Sol estava nascendo, enquanto degustava o chocolate quente de minha sogra. Fui arrumando as cadeiras para os poucos convidados, somente para os amigos verdadeiros, para os poucos da família que não são falsos. Ao por a primeira cadeira na areia úmida, percebi um cheiro de flores, estava ali, o altar em que iria me unir a ela em corpo e alma. Lindo, todo decorado de madeira em um verniz brilhante, com flores todas decoradas "Crisântemo"... A praia estava linda, ondas quebrando nas margens suavemente, a areia macia sendo apertadas contra os dedos dos pés, uma sensação de paz, ansiedade, nervosismo... Finalmente meu sonho estava se realizando! Os objetos foram colocados aos seus postos, cada peça em branco, cada detalhe em roxo, cada poste de luz em seus cantos. A horas pareciam minutos, eu precisava me arrumar... O Smoking por medida, parecia sufocar minha calma, estava ansioso demais... Mãos gélidas junto de uma transpiração incontrolável, meu sogro entrou no quarto:

"Garoto, deixe-me te falar algo. Não estou arrependido de nada, muito menos infeliz com esse casamento... Porque eu acredito que você irá fazê-la feliz, como já esta fazendo, a alegria dela é o que me importa... {Me deu um abraço e continuou} Eu te abençoo meu filho, que meu Deus seja tão mais perfeito pra você como foi pra mim, me dando uma mulher maravilhosa, respeitosa e um anjo de filha que tenho."

Aquelas palavras fizeram todo meu suador desaparecer, me trazendo a calma que necessitava. Lento e passivo o por-do-sol deixou a noite nos surpreender... Já se fazia presente alguns dos convidados mais próximos, cada pessoa reparando os arranjos, para ter o que comentar durante a festa. Eu procurando pensar o menos possível no "Aceito".Não é medo, como disse antes, ansiedade, só de imaginar que após tudo isso, seremos "eu e ela", sim claro, meu anjinho faltando apenas 3 meses para nascer.

"Ela observa o espelho, procura ver se está claro o suficiente, para detalhar cada canto de sua face com a maquiagem perfeita. Unhas lindamente em tons claros, cabelos exuberantemente acomodados, ajeitados com mãos cirúrgicas. Um brilho nos lábios, para não marcar aquele que a faz sonhar todas as noites, chorar quando o vê triste, ama... Ama de todo coração! O Vestido Branco, uma princesa, um anjo de caldas floridas, se preocupa em não amassa-las. Algumas "Fadinhas" a ajudam a descer a escada, seu pai deixando escorrer uma lágrima a espera no último degrau, ela sorri... Ele se rende a nascente em seus olhos! Em segundos se recompõe, pegando um lenço branco em seu bolso, não enxuga suas lágrimas, mas retira uma mancha na pontinha da orelha dela, sobras da maquiagem... Ele beija suas mãos! Nenhuma palavra precisa ser dita..."

Uma brisa soprou em minha nuca, lá estava ela, a lua azulada, começou a nascer, a segunda nesse mês, um fato raro, assim como a posição de meu sogro. Ela surgiu no horizonte toda majestosa, brilhante, chamando toda atenção pra si. O mar estava calmo, as pessoas sorrindo, fofocando a roupa da outra, bem dizendo meu nome, algumas invejando, e outras mais orando por nossa união, como eu sei disso? Eu não sei! As pessoas são assim, cada qual com sua personalidade, nem por isso são pessoas ruins. E quando todos menos esperavam as luzes foram apagadas... A lua... Outras luzes começaram a se ascender, tons azuis iluminando o branco, o pastor logo atrás de mim pondo as mãos em meus ombros indagando "Parabéns!"... Uma criança fez o caminho da noiva, acendendo na areia chamas em uns suportes próprio, outros dois castiçais sendo acesos ao meu lado... Uma música de fundo começou a tocar, não era a de casamento tradicional... Ben Harper - Waiting on an angel, foi ela quem escolheu.

"Ela sentiu um frio tomar seu estomago, uma tremedeira incontrolável nas mãos, seus olhos correram pelos arranjos de flores sendo iluminados por uma trilha de chamas, um cordão que a levava até ao altar, agradeceu em silêncio seu pai apertando suas mãos contra a dele... Ele sorriu! Seguiu seu desejo!"

Por Deus, nunca vi uma menina/mulher tão linda, descalça na areia vindo em minha direção, a lua... Ela, estava gravando em mim um momento único. Todo aquele lugar decorado, as flores e as luzes... Faziam meu coração acelerar de alegria, satisfação! Passo a passo eu sentia um calafrio...

"Passo a passo, ela tremia..."

Enfim, seu pai esticou a mão em minha direção, levando a minha a se encontrar com a dela... Um sorriso se abriu nos lábios de todos ali presente. Levantei o véu sobre sua face e nos viramos para o altar, a cerimônia começou. Meus calafrios cessaram...

"Sua tremedeira cessou!"

"Eu os declaro marido e mulher, pode..."

Antes da conclusão a beijei...Um beijo demorado, cinematográfico, só conhece quem ama, quem seja de toda alma ter aquela pessoa pra vida toda! Fogos iluminaram o céu por de trás do altar, assuntando o pastor, fazendo-o dar um salto enorme de susto, que maldade! Todos rindo, todos desejando logo a festa! As areias sendo movimentas por pés descalços, refazendo o caminho de chamas, posando para fotos... Estávamos transbordando em alegria!

"Ela sente uma mão correr para sua barriga, ele de joelhos a beija, ele sabe que aquela criança terá todo amor do mundo. Ela sabe que terá os melhores amores do mundo!"

A lua azul se fez presente, e trouxe com ela toda a paz e harmonia. Deus se faz presente nos pequenos detalhes, nos momentos menos atentos, porque Ele é a verdadeira essência, o mais puro amor!

PS: Não acredito que não apareceu no meu casamento. Te enviei o convite, falando que sua presença era mais do que esperada, alias, você era o meu padrinho. Perdeu a minha melhor festa, o meu casamento!

A Carta - "Desejos Submersos"

Não sei como começar a te pedir desculpas,
mas creio que ao final desse e-mail, irá entender.

"Senti o ar entrar sutilmente nos pulmões, preenchendo cada espaço em um suspiro longo e comecei a escrever. Suas mãos estão levemente dormentes, a vista um pouco turva, uma leve tontura... Pega o copo na comoda ao lado, está pela metade. Antes mesmo de beber deixa-o cair sobre as pernas, molhando todo edredom com estampa de nuvens. Não tem tanta força nos músculos. Pede a enfermeira para ajuda-lo, novamente o copo é recarregado com mais uma dose... De água!"

Meu mundo está sendo evoluído
e eu em regresso a infância,
onde dependo dos cuidados de uma pessoa
e essa nem mesmo é da minha família...
Alias, nem tenho um parente próximo
nem mesmo um amigo pra me aconselhar,
porque o que se dizia "amigo" me levou a riqueza,
porém, agora quase inválido nem mesmo um telefonema.
Deve estar atrás de um novo pupilo,
de um novo inocente,
para arrasta-lo ao mundo de desejos submersos,
esses por qual muito tempo
me deram momentos de alegrias,
satisfações momentâneas.
Como você já sabe o copo quase não saia da minha mão,
na minha sala da empresa uma garrafa tinha seu canto especial,
ali só bebia dela eu e o meu "amigo".
Sempre no final do expediente uma dose ou três eram apreciadas,
ou a garrafa toda.
Em seguida pneus na estrada e lá estávamos nós
em mais uma noite de calcinhas de todos os tipos,
dinheiro não era problema,
apenas as horas que passavam em um piscar de olhos.
Meia-noite, uma ou até duas da manhã
estava eu chegando em casa
me arrastando até a cama
com sono... Bêbado!
Por muitas vezes caia no sono no sofá,
a maioria das vezes... Sempre!

"Seis da manhã, o relógio desperta, movimenta o braço sem calcular a força e distância, consegue desliga-lo quebrando em partes ao cair no chão. Sente vontade em fazer isso com sua própria cabeça latejando, junto de um coração acelerado. Levanta...  Trombando com as paredes até chegar ao banheiro. As roupas ainda são do dia anterior, o cheiro de álcool, as marcas de batons baratos em suas variadas cores, mais uma motivo de reclamação da empregada: - Não da pra tirar antes a roupa pra fazer o que necessita estar sem? Mais uma pontada na cabeça! Sente a água gelada nos cabelos melados de champanhe, sente o frio lavar sua alma e desinfetar os resíduos corporais de outras pessoas... Mulheres! Sente nojo de si mesmo, mas mesmo assim segue-se a próxima noite. Satisfazendo apenas desejos... Desejos ilusórios, não é o que realmente deseja!"

Fiquei na banheira por alguns minutos,
bem mais tempo que imaginei...
Faço daquele espaço meu leito,
imaginando como seria estar morto?
Que pergunta besta, mas realmente queria saber!
Deixo a água chegar até as beiradas,
sinto meu corpo todo submerso em um silêncio sagrado
podendo sentir e ouvir o ar passando pelas minhas narinas.
Nenhum som, a não ser meu próprio coração se acalmando
aos poucos, vagarosamente, sem pressa!
De olhos fechados, ali... Tudo estava em paz,
até a empregada bater a porta e gritar meu nome.
Ela deve pensar que sou algum tipo de suicida,
por passar horas e horas dentro do banheiro,
ela estava certa!
Todos aqueles momentos
agora percebo o quão estava me matando aos pouco.
Essa cama pra mim é um castigo,
só não é tão pior ao descobrir...
Que estou morrendo!
As minhas chances são poucas,
assim disse o médico um dia depois do seu casamento.
Enquanto me arrumava para ir ao seu casamento,
acabei desmaiando,
na verdade um ataque de convulsão
e não havia uma alma por perto para me ajudar.
Minutos depois,
voltando da lavanderia
a empregada me viu todo estirado no chão do quarto
com a boca toda babada.
Fui dar por mim dois dias depois no hospital,
já em sã consciência recebi a notícia
de que tenho um tumor no cérebro,
e por algum milagre
ainda não paralisou partes do meu corpo.
E foi assim que perdi seu casamento!

PS: Peço desculpas, embora acho que não preciso disso!

A Carta - "Núpcias, Camarões e Náuseas"

“Uma leve brisa entra pelos vãos das venezianas, me causam arrepios e uma sensação de angústia.”

Sem saber da onde vem esse sentimento, procuro coisas pra fazer e distrair a cabeça. Ao ligar o computador para te agradecer pela sua surpresa, leio seu e-mail... Meu Deus... Tumor? Sem palavras...

“Sinto a boca seca, não sei como te consolar... Me sinto um péssimo amigo.”

Graças ao seu presente pude apreciar aquela ilha maravilhosa, cheia de árvores e flores, a Ilha do Arvoredo, linda, sem palavras. O casamento, todos dançando e bebendo, eu e ela sorrindo, uma alegria que foge da razão. Nunca pude imaginar que existia esse tipo de sensação, se compara com os presentes ganhos quando criança em noites de Natal e aniversário... Não, essa sensação era muito melhor. A noite foi caindo, ela devorando os camarões nos espetos, parecia uma ursa esfomeada devorando tudo a sua frente “Eu não posso passar vontade, tenho que experimentar, principalmente esses camarões que estão divinos”. Ela podia até me comer se eu reclamasse, que seja aqueles benditos camarões. A cada espetinho sendo devorado, ficava imaginando pra onde ia tanta comida, acho que preciso arrumar um emprego melhor.

“Após saciar sua fome, sentou-se mais próxima encostando sua cabeça em meu peito como o dia da borboleta negra. Toda aquela paixão ainda existia em mim, todo aquele amor era cada vez maior. Passou a mão em meu rosto e com a outra acariciando o barrigão me pediu pra leva-la até nosso quarto no hotel.”

Ao chegarmos ao nosso quarto, ficamos admirados com o luxo. Até pista de dança tinha, umas luzes muito doida abaixo do piso. Com aquela chance, uma última música antes do relógio marcar meia noite e a luz da lua atravessar os vidros da porta da sacada.

“Deitou-se ao meu lado, podia sentir o cheiro do perfume que dei a ela em nosso primeiro encontro. Deixei minhas mãos invadirem sua intimidade, com beijos estratégicos...”

Ela exclama: - Para, para, para! O que fiz de errado? Ela disse que nada, estava com náuseas. Passou a madrugada pondo os camarões pra fora. Eu acordado, velando por seu sono!

“Podia sentir suas respirações, a cada suspiro tocando meu braço, a cada gemido espalhando-se por aquele enorme quarto, era impossível tirar os olhos dela, assim como me conter sem toca-la. Uma pele macia, tanto quanto a areia espremida entre meus dedos horas mais cedo. Os olhos ainda com maquiagens, a boca o brilho já não mais existia depois de tantos enjoos, umedeci um algodão e com toda sutileza do mundo retirei todo aquele desenho em sua face, estava transbordando de felicidade em tê-la ali, ao meu lado, podendo ser seu guardião, seu protetor.”

Aproveitamos ao máximo cada canto da praia, cada quebrar de ondas, cada golfinho que pudemos observar com seus treinadores. Duas semanas naquele paraíso natural, nos deu tempo de sentir saudades de casa, do conforto de nosso lar, que nenhum lugar pode nos oferecer.
Obrigado meu amigo, você tornou capaz um casamento perfeito, do qual achei que seria só no papel. Só uma coisa, como conseguiu falar com meu sogro e combinar tudo isso? Bom, não importa, tudo foi muito perfeito! E realmente estou muito surpreso com essa notícia, mas acho que é apenas mais um teste pra você perceber o quanto és forte. Já superou muitos obstáculos e este não será diferente, estou aqui para o que der e vier, pode contar comigo pra tudo. E mais uma vez... Obrigado pelo casamento!

PS: Vou te visitar em minha próxima folga do trabalho, tudo bem? Me ligam, se eu puder te ajudar em algo. Abraço!

A Carta - "As Verdades que os Meus Demônios Contam"

Morte... 
Dor...
Eu... Um tumor?
Será que irei sofrer antes do último suspiro?
Esses pensamentos têm sugado todas minhas energias,
toda minha alegria, 
todas as esperanças sendo estraçalhadas!

“Sinto os olhos arderem, inchados devido a um choro solitário, um mal estar no corpo, não consigo dormir a vários dias.”

A última refeição foi ontem,
antes de a noite revelar a meia lua.
Às vezes vejo minha mãe pela casa,
me dando bronca,

“Levanta dai rapaz, hoje ainda é dia de trabalhar!”

Trabalhar... Ela era forte!
Sempre disse isso me alertando...

“Trabalho te faz sentir útil e fortalece seu caráter, te dando uma personalidade honesta. Se você deixa sua mente vazia, é com o vazio que você convivera, é o mesmo que estar morto.”

Ela estava certa... Sempre esteve e ainda está!

Agora são quase três da manhã,
e a enfermeira dormindo na poltrona do outro lado.
A cozinha parece tão distante,
a casa tão gigante...
Olho para aquela escadaria negra,
uma pequena luz de fundo
vindo do corredor de acesso ao meu escritório...
Um vulto, “quem tá ai?”,
me aproximo lentamente,
degrau a degrau os calafrios aumentam,
as mãos suam...
Aquilo ou aquela coisa aparece por detrás de mim.
Uma voz:

“Eu sei onde você está indo... Só mais uma dose! Sim, você pode? Você quer, não quer? Eu quero... Pega? Quer mulheres? Vamos sair então! Venha, eu te levo!”

As paredes começam a descascar,
minha mesa desaparece
dando lugar a um balcão de bar.
A estante de livro é tomada por prateleiras,
fileiras de bebidas de todos os tipos surgem,
feito mágica uma garrafa de Whisky
desliza pelo balcão até minha mão... Estou na boate!
A mesma que eu e meu “amigo” frequentamos.
Mulheres sobre o palco,
nenhuma peça de roupa
nenhuma timidez,
apenas ambições e desejos!
Não consigo ouvir nada,
apenas a voz me incomodando:

“Vamos abra, uma dose... A dose se perde em um gole. Outra, do mesmo jeito!”

O lugar parece girar,
mal consigo parar em pé
estou com cede...
Estou morrendo?

“Sim, você está! Não vai demorar muito!”

Você não sabe o que fala,
deixe-me em paz!


A voz zomba de mim com risos...
Outras risadas surgem
novas vozes, novas acusações...

“Estou crescendo com meu suor... Mentiroso!”

“Estou feliz com o novo emprego... Traidor!”

“Eu amo você... Cafajeste! Você sabe quem é o culpado, a causa da morte dela!”

Não sei do que você está falando!

“Ah, você sabe!”

“Ele sabe sim!”

“Nós sabemos, seu bêbado!

Cala a boca!
 Vocês não sabem o que falam...
 Eu amava-a!

“Sim, você ainda ama ela!”

“Mas ele a traiu e levou-a para morte!”

Não é verdade, não é verdade...

Sim, era verdade!
Aquelas vozes,
aqueles sussurros
estavam me matando.
Eles estavam certos!
No dia que ela me ligou,
eu estava... Com a outra!

“Eu não tenho como me defender, sou culpado pela sua morte. Ela me ligou perguntando pra onde iriamos aquela noite, eu disse que nós não iriamos nos encontrar, porque precisava acordar cedo. Mentira minha, estava com a outra tomando sorvete, e dali, iria para um motel. O celular ficou mudo, pessoas aglomerando do outro lado da calçada, algumas pessoas gritando por ambulância, outros usando os celulares, fui até o local... Era ela! Estirada no chão, com lágrimas nos olhos, com a boca roxa... Sai dali o mais rápido possível, simplesmente fugi, fui um covarde o suficiente pra ver a merda que causei, mentiroso e repulsivo, o pior homem da espécie... Os paramédicos chegaram em questões de minutos após a algazarra. Rapidamente foi levada ao hospital, já não fazia mais diferença, ela teve uma parada cardíaca súbita... Alguns minutos depois voltei ao local onde ela estava caída, achei a correntinha que a dei de presente, a qual ela arrancou com ódio do braço... Estava toda arrebentada, amassada, impossível restaurá-la. Eu matei a única pessoa que me amou verdadeiramente... A emoção, a tristeza foi tanta, que ela não aguentou!"

No dia seguinte tive que ir até a delegacia depor,
por ter sido a última pessoa a falar com ela,
eu menti...
Como naquele e-mail que te mandei,
eu disse a mesma coisa aos policiais.
Eu matei...
Eu fui culpado por sua morte!

“Agora sim, está sendo sincero, agora sim...”

“Ele tem medo da morte, não é verdade, seu fraco?”

“Ele tem medo das verdades, não da morte!”

“Fraco... Fraco... Fraco!!!”

As vozes foram desaparecendo,
os moveis voltando aos lugares.
Eu ainda com a garrafa na mão,
desisti...
Nenhuma dose a mais,
não enquanto eu respirar,
não enquanto eu puder viver em beneficio ao próximo.
Quero ser lembrado como uma pessoa boa,
justa, caridosa,
porque sei da minha real situação,
nenhum familiar irá pra velar meu enterro,
nem mesmo minha empregada iria...
Estive sujo por muito tempo,
vivendo com a culpa,
alimentando a minha ambição...
Dinheiro, sempre dinheiro!

“Um alivio, momentâneo, minha alma pede mais, acho que existe alguém que ainda acredita em mim, só pode ser Deus.”

PS: Me perdoe por não te contar a verdade, agora a beira da morte preciso ser sincero comigo mesmo, com você! E o meu presente foi graças a sua mãe, ela que me passou o celular do seu sogro, e assim acabamos combinando tudo!

A Carta - "Yasmim"

Sentei na sala com o notebook sobre a perna, comecei a ler seu e-mail. Que história triste! Sei que você mentiu pra mim, pra todos, mas você fez o que achou certo na hora, você sabia que estava errado, mas mesmo assim permaneceu no erro. O importante é recomeçar, redimir todas suas falhas do passado com humildade e sinceridade.... Seguir em frente! Quando comecei a responder seu e-mail, adivinha... A Bolsa dela estourou! Eram duas da manhã, eu não sabia o que fazer primeiro! Corri de um lado para o outro, enchi meu carro de coisas, um uno anos 90, não cabe quase nada, ela falando pra mim leva-la para o hospital... Gritando na verdade!
Já em direção ao hospital eu estava nervoso, ela segurando a barriga, eu não tive nem tempo de ficar feliz, fiquei preocupado com o bem estar delas, ela me olhou nos olhos sorrindo:

 “Estamos quase lá, fica tranquilo, só para de correr, isso está me deixando assustada, vai devagar porque a cada valeta tenho vontade de te matar.”

Realmente estava rápido. Tirei o pé do acelerador, respirei fundo, não conseguia parar de olhar para ela... A cada vez que eu fazia isso ela berrava falando para eu olhar pra frente. Cara, você não tem ideia de como eu estava, as mãos suavam feito nascente, o pés já estavam descalços no carpete barrento do carro, esqueci-me de calçar algo. Ao sair na correria de casa, fui direto para o carro, por fim sem um tênis, e pior, estava de pijama preto de bolinhas brancas, quem usa isso? Pois é, eu! Ao chegarmos ao hospital fomos entrando, eu gritando por um médico e ela tentando esconder o rosto de vergonha. Foi ai que o segurança do hospital, me barrou mandando eu ir calçar algo, na verdade em primeiro instante pensou que eu fosse algum dos doentes, pijama e descalço, fui obrigado a sair enquanto minha esposa era levada para a sala de parto, a dilatação dela estava perfeita. Enfim, corri no carro e coloquei a bota que uso para lavar o carro, que situação hilária. Do mesmo jeito que fui, voltei, olhando por onde ele foi. Falei com uma enfermeira, pediu para aguardar, jamais iria deixá-la sozinha na sala de parto. Decidi por eu procura-la, passei de fininho pela porta que dava acesso as salas de parto, adivinha, tirei o sapatão, me fingi de paciente, e fui invadindo, a cada vez que aparecia um enfermeiro, dizia estar pelo Dr. Armando, sempre tem um “Armando”! Sala a sala, porta a porta e nada, ai que, na última porta no corredor entrei, eu vi ela... Tentaram me tirar, ela gritou “É meu esposo!” Me deixaram ficar do lado dela! Segurei suas mãos! E olhou pra mim fazendo força e mesmo assim sorriu, como sempre fez... 

“Estamos quase lá meu amor, força!”

Movimentou os lábios... “Eu te amo!”

“Gemidos, pessoas de um lado, pessoas de outro, e uma dizendo para respirar fundo. Ela respirou, eu respire de verde que já estava me sentindo atordoado... Mais uma vez, força! E aquele som fininho, um choro do fundo d’alma, o primeiro choro ecoou pela sala... Yasmim nasceu!”

Ela com lágrimas nos olhos, eu com um oceano em queda livre:

“Parabéns papai e mamãe!”

Me aproximei dela com aquela túnica azul, e a beijei na testa...

“Parabéns meu amor!”

“Papai... Parabéns!” disse olhando em meus olhos, enquanto eu beijava sua mão. A enfermeira aproximou com ela nos braços, pequenina, branquinha, pálida... Linda!

“Ela olhou para aquele anjo em seus braços e o abençoou, aos prantos, uma emoção tomada por todos ali presente na sala, uma alegria incalculável que se possa dizer, uma mãe, uma verdadeira mãe se submetendo dedicar toda sua a vida aquela criança. Uma promessa não dita, apenas sentida, falada com os olhos!”

Novamente a criança voltou para os braços de uma enfermeira, e sai do local pra respirar... Encontrei meus sogros sentadinhos aguardando. Ele no caso perguntando como a neta era... 

“Linda, sem mais palavras linda, perfeita, como a mãe!”

Minha sogra chorou, já meu sogro... 

“Que roupa é essa?”

“No susto quando estourou a bolsa dela, sai correndo, acabei nem prestando atenção.”

“Nem pra calçar um tênis de pares diferentes? Preferiu vir descalço?”

Antes mesmo de ele acabar de zombar com a minha cara, o mesmo segurança que me pôs pra fora, veio em minha direção com o sapatão borrachudo na mão. 

“Acho que isso é seu, né?!”

A foi ai que meu sogro caiu na risada de vez. Ficamos ali os três, esperando pela minha esposa. 

Minha vida tem tomado um rumo diferente da sua. Você tem mais perdas do que vitórias... Uma coisa te digo, nessa vida nada termina! 

"A morte é a chance de eternizarmos nossos nomes na vida daqueles que nos amam, mas antes que Ela nos alcance, é necessário redimir com aqueles que erramos, e se não houver a quem se desculpar, seja um bom exemplo, abra seu coração, seja bondoso, seja humilde..."
Acho que não preciso lhe dizer isso, alias você deve estar se esforçando muito em assumir seu erro. Esse é um bom recomeço!

PS: Quero que você seja o padrinho da minha filha! E te deixou claro, você está desculpado por qualquer coisa. Alias, amigos servem para isso, perdoar e ajudar!

A Carta - "A Sombra no Espelho!

Uma pequena semente dos infernos,
plantada bem na medula óssea,
questão de tempo para me deixar paralítico.
Porque eu?
Acho que seu Deus não me ama... Ninguém!
Não tenho mais forças para nada,
nem motivos para viver,
sinceramente já pensei em até me matar,
quem sabe assim encontro meu lugar,
lugar de ninguém,
o lugar de todos!
Sinto um vazio imenso no peito
junto de uma dor alucinante em minha costa,
talvez seja apenas um mal estar no corpo
ou uma preguiça absurda,
não sei ao certo...
Umas cutucadas que chegam a latejar a cabeça
dando-me náuseas.
Um dia antes de receber sua carta
estive em maus lençóis,
não conseguia pensar em nada
nem em ninguém,
muito menos em mim,
eu queria somente a morte... Somente!
Eu tenho feito à sessão de quimioterapia,
porque os médicos creditam em minha recuperação,
só porque eles acreditam, eu não!
Após uma sequência de medicamentos pela manhã,
me deitei,
o sono foi tão pesado
no qual acordei somente às dez da noite.
“Corpo mole, mente vaga, sonolência dominante. Uma perna pra fora da cama sendo seguida pela outra, arrastando-se pelo lençol manchado de comidas, remédios, sangue... As pálpebras estão pesadas, mal consigo manter os olhos abertos, um cochilo ligeiro... Será que a morte me visitará dessa forma? Lenta, passional e sem dor? Duvido muito!”
Com um pouco de dificuldade vou até o banheiro,
cheio de náuseas e pisando duro,
todo desajeitado,
nem quando eu bebia me sentia assim,
vai ver que ela me fazia bem...
Que vontade de uma dose bem servida!
Só de pensar eu vomito...
Já nem tem mais cor,
já não sai quase nada.
Sinto a garganta queimar,
calafrios constantes,
tendo que medir minha temperatura
quase o tempo todo... Novamente ânsia!
Não aguento mais!
Estou com um odor azedo
devido a essa cena deprimente,
a mais de vinte horas sem tomar banho,
a enfermeira até tentou me ajudar,
mas eu a insultei com palavrões de A a Z,
fazendo-a chorar e ir embora...
Somente eu e o frigobar,
vazio... Parecido comigo!

“Luxo total, o banheiro é imenso! Ao lado do frigobar a enorme banheira de centro, cabendo confortavelmente quatro pessoas. Uma tela de cinema com um áudio perfeitamente distribuído. As paredes todas de espelho com colunas de madeira. As claridades das luzes davam para serem ajustadas com um pequeno controle no tom chumbo, a mesma cor da pia e do sanitário, esse com o estofado na cor preta. Era praticamente uma sala de banho, não economizou dinheiro, sempre prometeu para si mesmo que teria a casa a seu modo!

Nada para beber,
nem um gole de álcool,
nem posso,
nem devo... Como eu quero!
A água esta morna,
sem espumas, sem sais minerais,
sem frescura nenhuma,
apenas agua e meu corpo trêmulo.
Por que eu?
Um tumor, por que eu?
Um mergulho com o corpo todo submerso,
apenas o nariz e boca para fora d’água,
afogando minhas duvidas,
as vozes em minha mente...
O pensamento em suicídio é intenso!
Ouço as batidas de meu coração,
e lembro-me da cena,
dela deitada sobe meu peito
dizendo que meu coração batia forte:

“Sente o meu agora, sentiu? Está calmo, né?! Culpa sua! Você me deixa assim, você é minha fonte de calmaria, meu oceano dos segredos obscuros e desejos insanos, meu verdadeiro eu, com você eu não preciso encenar, eu apenas respiro ao seu lado e inspiro as minhas verdades, as minhas vontades, você...”

Não a deixei terminar,
precisava daquele beijo,
porque meu coração chorava
ao ouvir aquelas palavras,
caindo aos pedaços
e se transformando em migalhas,
porque poucas horas antes eu estava
com a outra... Uma das outras!
Eu sou culpado por tudo,
por toda essa tristeza,
por toda essa minha solidão,
nunca consegui por mais de uma hora
ser sincero com ela,
contar as verdades
e dizer o quanto eu amava-a... Nunca liguei pra isso!
O mergulho me fez lembra-la,
então, submergi e vi a minha realidade,
cabelos espalhados pela água...
Levei minhas mãos na nuca,
e um simples passar de mãos
os cabelos se soltaram,
por um momento fiquei ofegante,
mas logo lembrei que era o efeito das drogas
que tenho tomado para retardar meu problema.
Sai de dentro do meu desespero,
e parei de frente com aquela sombra
refletindo a escuridão, tristeza, dor...
Meu reflexo!
Perdi muito peso,
e o espelho não deixava-me iludir
com a possível recuperação.
O que antes era meu maior charme
agora estava entregando-me a angústia.
Me aproximei a um palmo da parede de vidro,
e eu vi... Vi uma sombra...
Não era minha!

“Você... Suicida, logo estaremos juntos!”

Não é a primeira vez que ouço vozes,
mas dessa vez era diferente,
eu estava vendo,
tremendo pela febre, de medo.
Engoli seco...
Meus lábios roxos trêmulos tomaram uma iniciativa,
consegui me defender:

“ Não sou suicida, estou com um câncer!”
Fui surpreendido com uma resposta que gelou toda a espinha.

 “Sim, você morreu há muito tempo! Após ela morrer, você sabe quem, não conseguiu mais se olhar para o espelho, o que não é pra menos, foi ai que começou sua morte... Parcelada! Aos poucos, você foi entrando no mundo da ilusão, da perdição, drogas, bebidas, mulheres... Aos poucos você foi provocando isso, e o câncer... É apenas seu castigo que lhe concedi, uma morte lenta e dolorosa, na qual você terá tempo em pensar nas suas escolhas, nos suas maldades e falsidades. Esse não é fim, você ainda irá experimentar a dor da dependência, a mesma dor que sua mãe passou, do mesmo jeito que não ajudou-a...”

“Cala a boca”

“Como você é fútil, egoísta e ridículo! Não ajudou a própria mãe quando necessitou, simplesmente a deixou morrer. Que tipo de filho você é? Ou melhor, que tipo de monstro você esconde? Não é melhor que os demônios que irá encontrar, não é melhor que um assassino, você é uma alma vazia... Assassino!”

Aquela sombra diante do espelho,
sabia de tudo,
da pessoa ridícula que sou
e dos meus erros para alcançar a riqueza.
Riqueza...

“A vida não necessita só de dinheiro e bens, o tudo agora é nada, e o nada são meus pensamentos e as lembranças me sufocando.”

Após ouvir tudo calado, tive o desprazer de uma última frase:

“Até mais!”

Minha perna esquerda amoleceu
feito casca de banana descascada,
me fazendo desabar no chão
batendo com a cabeça no espelho...
Ouvi um zumbido...
Cacos caindo sobre mim
estridentes no piso molhado...
Um corte na testa
e um sangue escorrido misturado com a água.
Não conseguia movimentar a perna,
a mão esquerda estava dormente,
junto de um formigamento...
A doença... Meu castigo?
Um trovão estremeceu tudo,
um temporal do lado de fora
um silêncio dentro de mim.
O céu estava negro
parecido com o meu banheiro,
molhado e cinzento.
Estou morrendo...
Um pensamento,
a resposta para minha própria pergunta
veio à cabeça em três palavras:

“Culpado, egoísta e Assassino”

Sim eu sou culpado,
e me arrastando até chegar ao quarto.
No dia seguinte fui socorrido
pela aquela que insultei e expulsei de minha casa,
a enfermeira Bianca.

PS: Tem certeza que ainda quer um assassino como padrinho da sua filha? Eu desejo muito ser o padrinho, por isso te contei a verdade!

"Pensamentos"



Já é tarde, os sinos da catedral soam, meia noite em ponto desligo a televisão indo em direção ao meu quarto. Passos lentos olhando cada detalhe do piso de madeira, velho, riscado, todo desbotado pelo tempo.

“O caminho se torna longo, o tempo desaparece, os segundos não existem, o presente se desfaz dando espaço para as lembranças, de um o passado de superações, de medos não enfrentados, de oportunidades perdidas, de casos e acasos solucionados.”


A parede branca descascada, no canto, próximo ao batente, não esta pior que a frente da casa, precisa de uma restauração total. Não é por falta de descuido ou de vontade, apenas não temos dinheiro suficiente para nos dar ao luxo em satisfazermos nossos olhos ou das visitas que fingem não reparar, mas mal conseguem tirar os olhos dos defeitos, mal sabem a luta e obstáculos que enfrentamos. Por muitas vezes sinto vergonha, um certo desânimo pela minha condição, mas não posso desistir, ainda mais agora com uma filhinha linda e uma esposa pela qual sempre pedi em minhas orações... Ele me ouviu!

Ela está toda esparramada na cama, Yasmim dormiu faz poucos minutos. Ainda sinto a mesma paixão, um amor maior do que o início do nosso namoro, maior que o daquele dia no banco da praça, onde avistamos o dançar da borboleta negra de pintas brancas em cada ponta das asas, sentimento tão intenso que não da para calcular seu peso ou tamanho, simplesmente senti-lo.  


O forro da casa é de madeira, em dia de chuva ela se parece com a casa do filme “Sinais”, com Mel Gibson no personagem principal, onde sua filha espalha vários copos com água pela casa para se proteger dos alienígenas. No nosso caso são baldes, bacias, canecas para conter as goteiras que nascem da madeira embolorada. Soa cômica a situação, mas me dá uma dor no coração por temer pela saúde delas. Por mais gotejos existentes, nosso quarto se salva com apenas um escorrimento na parede já demarcado com um tom marrom, por muitas outras vezes ocorridos! 
“Sorrir para os nossos problemas e dizer que jamais desistiremos, fácil na teoria, já na prática... Inesquecível atitude!

Quem acredita em sua própria vitória sempre irá vencer, quem acredita na sua capacidade sempre irá alcançar, há aqueles que nascem para comandar e liderar, há também aqueles que se dedicam somente ao amor e a sua natureza, ao bem estar do seu próximo... Não importa qual seja a sua personalidade ou suas escolhas, o importante é procurar a alegria dentro de si e transmiti-la a quem necessita.”

Um suspiro calmo e silencioso, ela abre os olhos toda sonolenta junto de um sorriso tímido espremendo os olhos com as mãos.

“Deita comigo amor!”
Debruçada sobre meu peito caindo no sono novamente, sinto seus pulmões encherem de ar, sinto minha calma retornar.

Os sons de pingados começam aumentar sua intensidade, a chuva esta forte e intimidadora, fazendo qualquer morador de rua correr atrás de um refugio... É esse pensamento que me vem à cabeça, imaginar eu aqui, no conforte de minha casa, onde outros mal têm a opção de se manter aquecido e seco. 

“O mundo parece ser injusto a nossos olhos, as nossas condições, insatisfeitos com o que temos reclamamos por bens materiais não obtidos, a quem deseja poder andar e mal consegue falar, a quem deseja cantar e mal pode ouvir, e mesmo assim com todas essas dificuldades sabem aproveitar o bom da vida... Amar!”

Foi só falar que o quarto estava salvo, que uma gota conseguiu mirar o buraco do meu nariz. Acender luz da casa... Nem pensar! Imagina a fiação da casa pegando fogo. A base de velas, todas às vezes são assim! É pra rir mesmo, pois é ela riu! Riu tão alto e tão demorado, que a Yasmim acordou, ai quem riu foi eu. 

Empurra ali, empurra aqui, cômoda pra lá, cama pra cá e Yasmim no nosso meio. Era uma chuva tão intensa, que eu tive que por o berço dela em cima de um sofazinho que há em nosso quarto, usado pela minha esposa para fazer Yasmim dormir. Estava ruim, mas estava ótimo em ver o quanto ela é uma mãe dedicada, o quanto é uma esposa esforçada e feliz, principalmente quando me diz que me ama. Não consigo imaginar nada melhor que os segundos que antecedem o beijo dela.

São quase duas horas da manhã, ambas em um sono profundo e eu aqui te escrevendo, no silêncio, no vazio negro, uma única luz vinda da vela no pires lascado nas beiradas sobre o criado-mudo. Sinto meus olhos pesados, quase me fazendo inclinar para frente, quase me vencendo, mas antes me lembro das suas condições, mais um momento triste pelo qual está vivendo... Sobrevivendo! Você tem muitos motivos para desanimar e desistir... Muitos motivos, porém poucos argumentos. Antes de qualquer coisa, você deve se perdoar, e aceitar que o passado agora importância alguma se tem. Sua vida agora é essa, a realidade é dura e madura, sua doença, seu fardo... Talvez seja essa sua salvação, sua reconciliação, o seu próprio perdão que procura e não encontra. Você pode vencer de muitas formas, mesmo que você venha falecer amanhã, hoje, agora... Nem quero pensar nisso! Mas sua recuperação não depende do resultado final, mas sim o que se pode fazer agora, das vidas que você pode salvar... Você deve essa ajuda a si próprio. Uma coisa é certa, eu não tenho a sua riqueza, muito menos sua frieza de tempos atrás a ponto de ignora-lo e deixa-lo sentir do próprio veneno. 

“O escorpião é tão defensivo e mortífero, que sua melhor defesa é a causa de sua própria morte.”

A chuva acalmou, os pingos ainda se fazem presente, eles na sala parece colidirem ao pé do meu ouvido de tão agudos e irritantes. E pra espantar de vez o pouco sono que me tinha, a sede se torna incontrolável. Pés descalço no chão vermelho, úmido e sujo. O assoalho da sala está mais parecido com um deck à beira-mar, todo molhado pelos respingos! 

“A porta da geladeira deixa escapar o ar frio, água gelada em uma garrafa pet de dois litros é despejada em uma caneca de alumínio, e bem lá embaixo, no fundo, atrás de um pote de manteiga está uma salada de pepino com cenoura, enfim, devorada, em coisa de segundos.”

Quase quatro horas da manhã. Tenho que levantar as seis pra ir à feira, comprar as verduras mais em conta, desde que o tomate vale ouro, sigo o exemplo de minha mãe. Amo essas pequenas coisas em minha vida, são como aventuras em terras não habitadas, esses simples detalhes me fazem feliz. Acredito que você também possa viver com isso. 
“Se você construir um império, lembre-se que ele só existirá se você souber cuidar do seu povo, porque é esse povo que o torna grandioso e em constante evolução.”


PS: Não tenho muitas palavras para te ajudar ou te consolar, mas tenho meu carinho e minhas mãos para te ajudar no que estiver a minha altura, alias, amigos servem para isso, certo? Ei, precisa conhecer minha filha. Alias você é o padrinho dela! Melhoras!





Estou arrependido,
estou... Aprendendo!
Todas as minhas ambições se foram,
todo o desejo por dinheiro de nada adiantou
vejo o quanto eu sou fraco, e pior,
dependente de outra pessoa para cuidar de mim.
Não há riqueza no mundo
para me livrar dessa situação.
Não existe ambição ao se conviver com a morte,
apenas o desejo de me curar, sobreviver.
Um manto negro foi retirado de meus olhos,
então comecei a perceber certas coisas,
onde meu orgulho cegava-me
e a minha superioridade me aprisionava.
Agora eu vejo, eu sinto,
a humildade tomando conta do meu ser.
As suas cartas no início
eu as queimavas após ler rapidamente,
hoje elas tem me mostrado
um lado que jamais imaginei vivencia-lo
o amor, a família, a amizade verdadeira,
suas cartas tem me mostrado um sentido
para buscar forças nessa situação decadente.
Eu consegui me perdoar... Obrigado!
Sou muito grato pela sua amizade,
você sempre tem me ajudado a superar os problemas,
obrigado de coração!
Tenho assistido muitas reportagens na TV
coisa que não fazia há anos,
de fato pelo tempo não disponível,
agora é o que mais tenho nesse momento
e sinceramente, vejo que não perdi nada,
não sinto necessidade desse vício, desse martírio.
Os jornais, as notícias... Tragédia!
É uma tragédia atrás da outra,
só sabem falar de sofrimento e dor,
e na minha situação
já basta o que estou sentindo.
Minha sessão de remédios esta para iniciar,
Bianca, minha enfermeira, vai separando um por um,
não aguento mais...
Isso me estressa, me revolta!
Há dois dias tive uma convulsão,
a sensação era de que minha alma
estava desprendendo do meu corpo,
a respiração interrompida por alguns segundos,
os músculos rígidos,
um apagão...
Quando dei por mim, despertei,
a minha língua estava toda dolorida,
uma dor na cabeça a ponto de explodir.
O mundo mais uma vez sendo cruel comigo,
mais essa?
Estava morrendo de sono,
cansado, Bianca não me deixou dormir!
Já estou no sétimo mês com esse tratamento,
e sinceramente não me sinto curado.
Mas vou deixar esse pensamento de lado,
e simplesmente esperar... Pelo tempo!
Às vezes o "estar só",
o silêncio do quarto
te deixa mais sensitivo as coisas novas,
as verdades escondidas
o amor adormecido...
Aprendemos a sermos mais ouvintes do que culpados,
pela nossa falta de paciência e ansiedade excessiva.
O esperar se ergue sobre pilares velhos e maciços!
A paixão quando surge
é como o universo, imprevisível, cheio de cores,
ela pode demorar anos pra nascer
ou simplesmente como o Big Bang!
Foi assim que ela surgir em minha vida, "Bum"!
Por estranho que pareça e por incrível que seja,
estou apaixonado como na primeira vez.
Para o meu estado estar apaixonado é complicado,
mais complicado ainda é imaginar
que alguém fosse se interessar por mim.
Ela é linda,
dos olhos castanhos claros,
dos cabelos dourados
e um sorriso que só Deus sabe
o efeito que tem sobre mim,
apaixonado, com esperanças...
Após a convulsão abri os olhos lentamente,
eu a vi, ali, debruçada sobre mim,
a enfermeira...
Primeiramente pensei comigo,
“O que ela pensa que está fazendo?”
Mas antes mesmo que eu pensasse em tira-la dali,
me perdi em seus cabelos lisos
despejados sobre minha perna.
Um dos braços estava apoiando a cabeça,
já o outro esticado ao meu lado
segurando o óculos quase transparente.
Era tão linda, tão cheirosa,
que esses seis meses na cama
aos cuidados dela voaram,
parecia um anjo.
Adormeceu sobre mim,
com o rosto em direção ao meu,
será que antes de cair no sono
velava por mim?
Não, impossível,
ela abriu os olhos...
Em um impulso rápido levantou-se desculpando,
se explicando, que a noite passada
não havia conseguido dormir bem
por causa do calor...
Eu a interrompi pedindo-a
para sentar-se ao meu lado novamente.
Assim ela o fez:
“Você é linda, obrigado por tudo que tem feito por mim!”
“Mas esse é o meu trabalho, não tem que agradecer.”
“Sim, é o seu trabalho, mas você tem me aturado, todo o mal humor que me pega as vezes.”
“Tudo bem, o que importa é você se recuperar o mais breve possível.”
“Mas ai, eu não irei mais te ver.”
“Pensei nisso também...”
“Explique-se, você pensou em mim?”
“Eu...”
Não resisti, a beije... Fui correspondido!
Nunca fui de muitas conversas,
e mesmo de cama não agi diferente.
Ficamos horas conversando,
nos beijando!
"Até que estou me saindo bem, no Mundo dos Normais... Odeio monotonia, odeio mesmice, odeio tudo que esta relacionado à calmaria, a única calma que espero é a capacidade de amar sem me preocupar com sinceridades, porque se existem verdades nas palavras, existe a esperança de uma loucura de amor, uma bagunça no meu interior, um terremoto na minha alma, o amor é a turbulência que espero usufruir nesses últimos momentos de razão."

Não faço ideia por quanto tempo mais
terei que sobreviver a esses dias de remédios e estresse,
só sei que será mais fácil daqui pra frente,
com ela ao meu lado.

PS: Meu amigo graças a você eu já sei que rumo vou dar minha a vida. Estou criando junto com a Bianca, um lugar para se curar o câncer em crianças, quero que você venha trabalhar comigo. Eu te explico melhor, por telefone, até mais querido.

Até nos Reencontrarmos no Céu



Acordei com uma preguiça enorme de sair da cama. Tudo bem, já são 10 da manhã, mas combinei de visitar o velho. Terçaferianos, é assim que meu avô costuma nos descrever, minhas folgas são sempre nas terças-feiras, o único dia que posso vê-lo.

A chuva lá fora respingando nas telhas envelhecidas pelo tempo, cobertas por um verde escuro escorregadio. Sinto o cheiro de café pela casa junto de uma poluição sonora saindo dos escapamentos dos veículos, que nem mesmo a madrugada consegue silenciá-los.



Ao som de “Bee Gees - How Deep Is Your Love” pego estrada a fora, meus 28 anos não condiz com meu gosto musical, nasci em época errada! Quase me perdendo pelo caminho, quase querendo me perder em um sonho acordado, fui até uma cidade vizinha, onde meu bom velho mora. É uma cidade pequena com apenas cinco quadras, rodeadas de fazendas, no caso uma delas sendo a do meu avô.

Já na entrada da fazenda, uma mensagem em branco em uma madeira comida por cupim, pendurada por arames amarrados entre duas colunas finas de cimento, lá escrito:

“Aqui ainda não é o céu!”

Passando por esta placa há uma pequena estrada de terra, entre ela, dois lagos onde meus tios costumam pescar. Meu avô disse-me que ali é a representação do mar dividido no meio, a passagem de Moisés. O mais legal disso tudo, que ao continuar pela estrada ela começa a se inclinar, uma subidinha chata. Chegando-se ao alto do morro há uma grande mangueira e bem abaixo dela uma pedra retangular com os 10 mandamentos. Alguns metros ao lado fica a casa.


Ele sempre recebe as visitas em pé a porta, porém isso não acontece a meses, após o segundo derrame. Muitos dos movimentos ficaram limitados, andar é uma coisa que ele já não consegue mais. Ele está se acostumando a ver o mundo de baixo pra cima.


Assim que adentrei a casa fui direto a ele, estava na cozinha com a Dona Aurora, a cozinheira, ajudando-o a tomar um chá. Foi logo me recebendo com braços abertos sem sair do lugar, mãos trêmulas e um sorriso largo com seu fundo de garrafa saltando da face. Sua voz mais oscilante que as mãos me recitou:
“Vejo que o tempo não vê como o único alvo... (fez uma pausa olhando-me fixamente e continuou) , essa barba no rosto é pra por medo ou porque tenta esconder um sorriso? (fez muitas outras pausas até conseguir concluir a frase, em nenhum momento deixou de sorrir)”
Em passos largos o abracei numa pausa maior que a de sua frase junto de um beijo. Aqueles braços flácidos me envolveram oferecendo-me uma carona em sua cadeira de rodas até a mangueira.


A caminhada até a sombra daquela imensa árvore foi de contemplação, nenhum de nós dois se atreveu a falar. Após chegarmos ao nosso objetivo demorou mais alguns minutos até ele quebrar o silêncio de nossas almas.
"Muitas verdades são tão absurdas, que o que eu considero absurdo acaba se tornando tão normal aos olhos de outros. O mundo que assisto diante de meus olhos está agonizante, próximo de sucumbir. Eu mesmo cooperei pra isso um dia, vê essa mangueira? (Fiz um pequeno movimento de afirmação com a cabeça.) Esse morro era cheio dessas maravilhosas gigantescas, o chão era forrado de mangas pelo chão, crianças pareciam brotar das folhas espalhas pela terra, e essas mesmas se penduravam nesses galhos altos. Ai eu achei que precisava de mais espaço para meu gado, duas vacas e um boi, cortei todas elas deixando apenas está. Agora depois de meio morto percebo a besteira que eu fiz. Naquele tempo as crianças me irritavam só de chegar perto, vinham de vários lugares correndo por esses gramados, hoje as procuro na lembrança pra poder me rejuvenescer. (Fez uma longa pausa olhando a parte de traz da casa.) Ali, onde fica o poço, havia uma estante de plantas, era da sua avó... Como aquela velha gostava de cores! Ela que me ensinou a cuidar da terra, a plantas aquelas árvores de laranja e mexerica.”
Pediu para caminharmos por entre o laranjal. Cada palavra que saia de sua boca era novidade pra mim, queria ser lembrado pensei comigo, mas não, queria me ensinar algo maior.
“Fiz muitas besteiras nessa vida, cometi muitos erros nesse caminho, e se eu pudesse erraria tudo novamente, viveria com ainda mais intensidade, me preocuparia bem menos com coisas que me diziam para prestar mais atenção, e com toda certeza pediria mais perdão. Orgulho é egoísmo, não dar o braço a torcer é idiotice, e deixar um amor partir por essas duas coisas é uma morte prematura. Nossa passagem aqui é curta demais pra vivenciar uma guerra, ou pior ainda, começá-la. O amor mais puro que você irá sentir, será por um filho, é com ele que você aprenderá a usar a palavra eu te amo com toda intensidade. (Foi interrompido por uma longa tosse, mas retomou com a mesma velocidade que começou.) Entenda que dinheiro demais pode acabar substituindo valores, sentimentos, até mesmo a pessoa que ama. Tudo na vida deve ser usado no meio termo, saber dosar a própria vida! Todos os segundos que eu respiro, traço filmes do passado e do futuro em minha mente, fazendo do presente uma linda caixa de surpresa, aguardando o momento no qual a terei novamente em meus braços."

Após essa lição de vida ele disse que não aguentava mais ouvir a si mesmo, perguntou como andava minha vida, ai foi a minha vez.


Deixei a fazenda quando o sol estava se pondo, no horizonte aquela cortina de poluição laranja, que se vê até nos lugares mais afastados devido as rodovias que se infiltram entre a natureza. Ao sair pela porteira, reparei na mesma placa de madeira, que na parte de traz havia uma mensagem diferente:
“Até nos reencontrarmos no céu!”
Ai entendi o que ele quis dizer com o “...aguardando o momento no qual a terei novamente em meus braços." Ele espera rever minha avó! É triste parar pra pensar nisso, mas acho que esse é o amor do qual ele me falou, mesmo depois de muitos anos juntos ainda espera reencontra-la.


PS: Nem sei por onde começar... Você está me dando uma oportunidade para a vida toda, eu aceito sua proposta de emprego sem pensar duas vezes, não sei como te agradecer! Eu e minha esposa estamos passando por provações constantes, porque ela está desempregada e para piorar não conseguiu creche para a Yasmim, uma situação bem difícil assumir as contas sozinho, mas graças a você esse desconforto será superado. Por falar em dificuldade, como que você está? Está de cama de novo, né?! Fiquei sabendo pela sua enfermeira... Tudo vai dar certo!