Outra coisinha...

Não crie raízes em solo areoso, assim como não espere encontrar aguá em seu mais novo esconderijo, é preciso ser adaptável e constantemente ligeiro, toda mudança é um passo para o crescimento... Acredite apenas em si mesmo!


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quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

A Carta - "As Verdades que os Meus Demônios Contam"






















Morte... 
Dor...

Eu... Um tumor?
Será que irei sofrer antes do último suspiro?
Esses pensamentos têm sugado todas minhas energias,
toda minha alegria, 
todas as esperanças sendo estraçalhadas!


“Sinto os olhos arderem, inchados devido a um choro solitário, um mal estar no corpo, não consigo dormir a vários dias.”
A última refeição foi ontem,
antes de a noite revelar a meia lua.
Às vezes vejo minha mãe pela casa,
me dando bronca,
“Levanta dai rapaz, hoje ainda é dia de trabalhar!”
Trabalhar... Ela era forte!
Sempre disse isso me alertando...
“Trabalho te faz sentir útil e fortalece seu caráter, te dando uma personalidade honesta. Se você deixa sua mente vazia, é com o vazio que você convivera, é o mesmo que estar morto.”
Ela estava certa... Sempre esteve e ainda está!

Agora são quase três da manhã,
e a enfermeira dormindo na poltrona do outro lado.
A cozinha parece tão distante,
a casa tão gigante...
Olho para aquela escadaria negra,
uma pequena luz de fundo
vindo do corredor de acesso ao meu escritório...
Um vulto, “quem tá ai?”,
me aproximo lentamente,
degrau a degrau os calafrios aumentam,
as mãos suam...
Aquilo ou aquela coisa aparece por detrás de mim.
Uma voz:
“Eu sei onde você está indo... Só mais uma dose! Sim, você pode? Você quer, não quer? Eu quero... Pega? Quer mulheres? Vamos sair então! Venha, eu te levo!”
As paredes começam a descascar,
minha mesa desaparece
dando lugar a um balcão de bar.
A estante de livro é tomada por prateleiras,
fileiras de bebidas de todos os tipos surgem,
feito mágica uma garrafa de Whisky
desliza pelo balcão até minha mão... Estou na boate!
A mesma que eu e meu “amigo” frequentamos.
Mulheres sobre o palco,
nenhuma peça de roupa
nenhuma timidez,
apenas ambições e desejos!
Não consigo ouvir nada,
apenas a voz me incomodando:
“Vamos abra, uma dose... A dose se perde em um gole. Outra, do mesmo jeito!”
O lugar parece girar,
mal consigo parar em pé
estou com cede...
Estou morrendo?
“Sim, você está! Não vai demorar muito!”
Você não sabe o que fala,
deixe-me em paz!

A voz zomba de mim com risos...
Outras risadas surgem
novas vozes, novas acusações...
“Estou crescendo com meu suor... Mentiroso!”
“Estou feliz com o novo emprego... Traidor!”
“Eu amo você... Cafajeste! Você sabe quem é o culpado, a causa da morte dela!”
Não sei do que você está falando!
“Ah, você sabe!”
“Ele sabe sim!”
“Nós sabemos, seu bêbado!

Cala a boca!
Vocês não sabem o que falam...
Eu amava-a!

“Sim, você ainda ama ela!”
“Mas ele a traiu e levou-a para morte!”
Não é verdade, não é verdade...

Sim, era verdade!
Aquelas vozes,
aqueles sussurros
estavam me matando.
Eles estavam certos!
No dia que ela me ligou,
eu estava... Com a outra!
“Eu não tenho como me defender, sou culpado pela sua morte. Ela me ligou perguntando pra onde iriamos aquela noite, eu disse que nós não iriamos nos encontrar, porque precisava acordar cedo. Mentira minha, estava com a outra tomando sorvete, e dali, iria para um motel. O celular ficou mudo, pessoas aglomerando do outro lado da calçada, algumas pessoas gritando por ambulância, outros usando os celulares, fui até o local... Era ela! Estirada no chão, com lágrimas nos olhos, com a boca roxa... Sai dali o mais rápido possível, simplesmente fugi, fui um covarde o suficiente pra ver a merda que causei, mentiroso e repulsivo, o pior homem da espécie... Os paramédicos chegaram em questões de minutos após a algazarra. Rapidamente foi levada ao hospital, já não fazia mais diferença, ela teve uma parada cardíaca súbita... Alguns minutos depois voltei ao local onde ela estava caída, achei a correntinha que a dei de presente, a qual ela arrancou com ódio do braço... Estava toda arrebentada, amassada, impossível restaurá-la. Eu matei a única pessoa que me amou verdadeiramente... A emoção, a tristeza foi tanta, que ela não aguentou!
No dia seguinte tive que ir até a delegacia depor,
por ter sido a última pessoa a falar com ela,
eu menti...
Como naquele e-mail que te mandei,
eu disse a mesma coisa aos policiais.
Eu matei...
Eu fui culpado por sua morte!
“Agora sim, está sendo sincero, agora sim...”
“Ele tem medo da morte, não é verdade, seu fraco?”
“Ele tem medo das verdades, não da morte!”
“Fraco... Fraco... Fraco!!!”
As vozes foram desaparecendo,
os moveis voltando aos lugares.
Eu ainda com a garrafa na mão,
desisti...

Nenhuma dose a mais,
não enquanto eu respirar,
não enquanto eu puder viver em beneficio ao próximo.
Quero ser lembrado como uma pessoa boa,
justa, caridosa,
porque sei da minha real situação,
nenhum familiar irá pra velar meu enterro,
nem mesmo minha empregada iria...
Estive sujo por muito tempo,
vivendo com a culpa,
alimentando a minha ambição...
Dinheiro, sempre dinheiro!
“Um alivio, momentâneo, minha alma pede mais, acho que existe alguém que ainda acredita em mim, só pode ser Deus.”


PS: Me perdoe por não te contar a verdade, agora a beira da morte preciso ser sincero comigo mesmo, com você! E o meu presente foi graças a sua mãe, ela que me passou o celular do seu sogro, e assim acabamos combinando tudo!

2 comentários:

  1. Ela não tinha morrido de outra forma? Uma veia estourada ou algo assim?

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    Respostas
    1. "No dia seguinte tive que ir até a delegacia depor,
      por ter sido a última pessoa a falar com ela,
      eu menti...
      Como naquele e-mail que te mandei,
      eu disse a mesma coisa aos policiais..."

      Ele mentiu, pra não ser julgado,culpado... Ele mentiu tanto para a policia como para seu amigo!

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