Achei que as coisas
irão melhorar para mim,
digo com relação a minha doença... Saco!
O sono me abandonou já fazem dois dias
e com a entrada do inverno
não sei se sou eu que estou piorando
ou o tempo que não colabora.
digo com relação a minha doença... Saco!
O sono me abandonou já fazem dois dias
e com a entrada do inverno
não sei se sou eu que estou piorando
ou o tempo que não colabora.
Uma inspirada longa para três tempos de tosse.
Sinto o ar preencher os pulmões
como fagulhas de vidros passando pelas minhas narinas,
ardem... E mais tosses!
Minha cama de casal toda macia e cheirosa
substituída por uma cama de hospital,
eles parecem esperar já pelo meu pior.
Bianca está aqui ao meu lado
dormindo sentada na poltrona... Coitada!
Eu disse para ela ir pra casa
ou dormir no quarto enfrente ao meu,
mas não, teimosa feita a uma porta.
Ela realmente gosta de mim!
Tosse, tosses e mais tosses,
todas abafadas com uma toalha grossa
para não acordá-la,
não preocupa-la.
Sinto meu corpo inteiro dolorido,
meus pés dormentes,
minha boca seca exalando um odor deplorável.
Morrendo de dentro pra fora!
Eu sei, ninguém precisa mentir ou omitir,
dizer que tudo irá melhorar,
eu sei... Que estou morrendo!
dizer que tudo irá melhorar,
eu sei... Que estou morrendo!
“Olho para cima e vejo uma criança correndo, por entre as árvores, não são árvores, são bananeiras grandes e baixas, folhas largas que algumas abrigam aranhas grudadas em suas teias... Um grito! Uma menina sai se batendo, balançando os cabelos, pedindo por socorro. O menino se aproxima e ajuda-a retirar aquele pequeno bicho... Nome que ela havia dado aquele que se prendera em sua roupa. Ele o pega devolvendo-o a bananeira, achou que ali estaria seguro. Ela olha para ele com lágrimas nos olhos e sorri, agradece e voltam a correr.”Minha mãe sempre visitava minha tia,
éramos tão humildes eu e minha prima
que ela morava no lugar mais afastado do centro da cidade,
onde havia muitas chácaras e barracos.
Lembrei-me disso após ler sua carta
falando de seu avô.
O passado insiste em se fazer presente.
Agora entendo o que seu avô quis dizer
quando dizia:
“Todos os segundos que eu respiro, traço filmes do passado e do futuro em minha mente, fazendo do presente uma linda caixa de surpresa...”Lembro da minha primeira paixão,
Estela, era esse seu nome,
loirinha dos olhos azuis,
paixão de todos os garotos da escola.
Estudei com ela da segunda até a sétima série,
com o tempo já não lembrava mais do seu herói.
Teve um caso na quarta série que me deram esse título.
“Estava ela com suas amiguinhas dois degraus acima do chão vermelho do pátio da escola, era a HORA DO RECREIO! Os meninos, eu, adorávamos brincar de pega-pega, acho que a escola inteira fazia isso, porque era difícil ver a molecada sentada. Corre pra lá, corre pra cá... SPLAT! Vagner um menino que morava em um orfanato próximo a minha casa fez com que a lancheira rosa voasse para longe, os presuntos deram cores ao óculos fundo de garrafas da quatro olhos, Estela caiu para trás... Ai em um momento de heroísmo, coisa de segundos, de cinema, saltei caindo antes dela no chão... Ela caiu sobre mim! No meu saco na verdade, foi a primeira vez que vi estrelas. Pensa numa dor... Ela se levantou, vermelha, não sei se era de vergonha ou raiva, deu início ao espancamento em Vagner, respondeu minha pergunta sem ao menos me agradecer.”Já em sala de aula,
uma dizendo “foi ele”,
outro dizendo “que não tinha culpa”,
e a quatro olhos falou:
“Ele salvou ela!”E contou toda história para a professora.
Um gritou:
“Aeee Superman!”
“Era mais um gato pulando!”
“Herói, ele é um herói!”Disse a professora com essa frase,
junto palmas e algazarras,
os bagunceiros subiram em cima da mesa
se aproveitando da situação
quebrando aquele clima,
ai ela interrompeu dizendo bem gentilmente:
“ Calem a boca! Chega, cada um no seu lugar!”Da professora foi parar na diretoria e eu...
Bem, sou a Bianca, acredito que ele fosse querer que eu terminasse esse e-mail. Você deve não estar entendendo o porquê de eu estar escrevendo. Bem, ele acaba de falecer a umas três horas atrás. Perdoe-me, mal consigo escrever, não consigo parar de chorar. (Ela chora aos soluços) Ele morreu enquanto eu dormia (olhos tornam a se encher de lágrimas), teve uma parada cardíaca. Não sei como isso aconteceu, mas não consegui ouvi-lo, nem mesmo me chamando, eu estava ao seu lado!(Chora por mais outros minutos.) Olha, sei que ele já sabia da própria condição, então deixou tudo por escrito com um advogado, (chora um tanto mais e conclui), achei melhor deixar você organizar o velório dele, já que é o mais próximo de ser da família. Ligo daqui à meia hora pra deixarmos tudo certo. Desculpa, não consigo mais escrever, até logo mais!
“ Uma forte dor no peito, o coração acelerado, dolorido, amargurado, um choro calado. Ele não pede por socorro, não esboça nenhum grito, apenas caras feias, mãos espremendo o lençol entre os dedos, o mundo girando, a respiração ofegante, brilhos de estrelas na escuridão que vai tomando conta diante de seus olhos, pequenos gemidos, imperceptíveis aos ouvidos humano, e em um último suspiro ele agradece aquela que lhe vem buscar... Seja breve! Assim ela se vai, dançante, como a borboleta negra de pintas brancas nas asas!”
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